Construção Histórica do Brincar no Brasil, no Século Xix
Por Verônica Zegur (Autor).
Em IX Congresso Brasileiro de História do Esporte, Lazer e Educação Física CHELEF
Resumo
Este trabalho monográfico surge a partir de perguntas construídas em um debate, realizado na Faculdade de Educação da UNICAMP com um grupo de futuros pedagogos, à respeito do brincar. Atualmente, o brincar é visto como uma atividade própria da criança, e parece, assim, carregar diferentes funções sociais, como a necessidade de ser sempre útil; o que fica claro quando é apresentado, por exemplo, em propostas pedagógicas ou de lazer como meio para o desenvolvimento da criança, seja na escola, na rua, no parque, etc. A partir da leitura de Áries, em seu título “História Social da Criança e da Família” (1981), comecei a olhar para o brincar a partir da história. Comecei, então, a entender que se a compreensão do que é infância muda ao longo dos anos, também o conceito do brincar pode ter sido modificado. Foi quando me deparei com uma frase estarrecedora: “Os presépios napolitanos, as quinquilharias italianas e os brinquedos alemãs eram muito procurados pelas crianças, no entanto faziam parte da arte popular dos adultos. O bibelô, muito comum entre adultos e crianças, tornou-se no século XIX um brinquedo para as crianças e enfeite para os adultos.” (Áries, p.88) Embora os estudos de Áries tenham se situado, basicamente, na Europa, pode-se extrair desta passagem um dado muito interessante: os brinquedos que no século XIX eram utilizados pelas crianças, em épocas passadas haviam feito parte da arte popular dos adultos! Ou seja, se anteriormente a este século adultos brincavam com objetos que depois passaram a ser considerados infantis, quais mudanças ocorreram? Como o adulto deixou de brincar e a criança passou a ser a protagonista desta história? Como se construiu o conceito do brincar ao longo do século XIX, época que este estudo privilegia? São essas perguntas, entre outras, que procuro responder nesta pesquisa. Para tal estudo escolhi a realidade brasileira, uma vez que raros são os trabalhos que tratam deste tema aqui no Brasil. Por ser a cidade do Rio de Janeiro a capital do país na época, farei uso de fontes produzidas na mesma, considerando que estas podem refletir a sociedade de maneira geral, como fica claro nas palavras de Nicolau Sevcenko no livro “História da Vida Privada no Brasil - vol.3”, em que afirma ser o“Rio de Janeiro (...) a vitrine do país.” (1999, p.22). As fontes utilizadas são periódicos, iconografia bem como manuais de civilidade que circularam na época – fontes que podem traduzir parte da cultura no Brasil neste período. A principal revista utilizada na pesquisa é a “Revista Popular”, escolhida por possuir um caráter muito peculiar: foi uma das primeiras revistas de grande porte editada por um período aproximado de 20 anos (1859-1878) - no ano de 1863 esta revista passou a se chamar “Jornal das Famílias”. Utilizarei, ainda, outras publicações da época como as revistas “A Mãe de Família” e “A Infância”. Quero ressaltar que os manuais de civilidade, que começaram a circular no Brasil essencialmente a partir do século XIX, são importantes pois contém informações valiosas a respeito de como a sociedade deveria se comportar. Assim também as pinturas, fotografias e afrescos carregam consigo o caráter de cada civilização, sua maneira de lidar com o trabalho e o lazer, com a religião, com a afetividade, etc.