Resumo

O movimento de alcançar e de pegar objetos é amplamente utilizado nas atividades diárias. Desta forma, diversos estudos têm analisado e descrito este padrão de movimento em função de diferentes aspectos que influenciam seu controle. Da mesma forma, o movimento de andar é uma habilidade fundamental nas atividades diárias e tem sido estudado e descrito amplamente na literatura. Entretanto, pouco se sabe sobre quais são as alterações que ocorrem nessas habilidades motoras quando elas são combinadas. A realização combinada de habilidades motoras (ex., andar e pegar um objeto) está muito presente no dia a dia das pessoas, mas o entendimento do controle desse tipo de tarefa combinada ainda não foi elucidado. Adicionalmente, ainda não está claro quais são as modificações que ocorrem nestes movimentos em função do processo de envelhecimento e do histórico de quedas recentes em idosos. Desta forma, três estudos foram conduzidos para investigar o desempenho motor de adultos jovens e idosos com e sem histórico de quedas na marcha combinada com o movimento de preensão em função do nível de dificuldade da tarefa manual. O primeiro estudo investigou o desempenho motor dos adultos jovens na marcha combinada com o movimento de preensão. O segundo estudo comparou o desempenho motor entre idosos com e sem histórico de quedas na marcha combinada com o movimento de preensão. Ainda, o terceiro estudo comparou o padrão de coordenação entre idosos (com e sem histórico de quedas) e adultos jovens na marcha combinada com o movimento de preensão. Participaram desta tese, 45 indivíduos distribuídos em três grupos (n=15): adultos jovens, idosos sem histórico de quedas e idosos com histórico de quedas. Os indivíduos foram convidados a alcançar e pegar um objeto em duas tarefas (manutenção da postura ereta e marcha) e para cada uma, seis condições experimentais foram realizadas com diferentes níveis de dificuldade. Para analisar o movimento de preensão, movimentos do corpo todo e os parâmetros espaço-temporais da marcha, um sistema tridimensional de análise de movimento foi utilizado. Modificações na marcha e no movimento de preensão foram identificados quando combinados, especialmente para as condições mais desafiadoras da tarefa manual. A adição da tarefa de pegar o objeto provocou uma adaptação na marcha, pois os participantes adotaram uma estratégia mais conservadora para aumentar a estabilidade dinâmica durante a fase de aproximação. Assim é possível sugerir que o movimento de preensão foi sobreposto ao da marcha, embora as adaptações no comportamento motor sejam globais, pois ambos os padrões motores (marcha e preensão) foram modificados para realizar com sucesso a tarefa em função dos diferentes níveis de dificuldade da tarefa manual. Os idosos com histórico de quedas apresentaram um desempenho motor inferior aos idosos sem histórico de quedas na marcha combinada com o movimento de preensão, como por exemplo, redução na velocidade do passo, aumento na duração do passo, redução na velocidade do punho e na abertura entre os dedos. Além disso, os idosos com histórico de quedas apresentaram maior redução na velocidade do COM AP em comparação com os idosos sem histórico de quedas. Assim, o paradigma de tarefas combinadas desenvolvido no presente estudo identificou mudanças nas estratégias de controle motor em idosos caidores, sendo que estas alterações foram ainda mais evidenciadas nas condições manuais mais difíceis. Ainda, a adição da tarefa de pegar o objeto na marcha modificou o padrão de coordenação entre membros superiores e inferiores para os movimentos de flexão/extensão e abdução/adução. Assim, para os movimentos de flexão e extensão, um padrão mais em fase e menos fora de fase foi identificado na condição de preensão comparado com a marcha livre quando o ombro direito foi analisado em relação ao ombro esquerdo e quadril direito. Para os movimentos de abdução e adução, quando o movimento de ombro direito foi analisado em relação ao ombro esquerdo e quadril direito, foi observado um padrão menos em fase. Além disso, um padrão menos fora de fase foi observado para os acoplamentos entre ombro direito-ombro esquerdo e ombro direito-quadril esquerdo. Entretanto, estas mudanças no padrão de coordenação não foram afetadas pelo nível de dificuldade manual. Este resultado sugere que as mudanças no padrão de coordenação são mais globais, enquanto mudanças específicas no movimento de membro superior são necessárias para acomodar as diferentes demandas da tarefa manual. Finalmente, idosos com histórico de quedas apresentaram um padrão diferente de coordenação quando comparados com os adultos jovens, como por exemplo, um padrão mais fora de fase para o acoplamento entre ombro direito e quadril direito e um padrão menos fora de fase para o acoplamento entre ombro direito e quadril esquerdo na marcha combinada com o movimento de preensão. Desta forma, parece que os idosos com histórico de quedas desacoplam a tarefa da marcha combinada com o movimento de preensão, diferentes dos adultos jovens e idosos sem histórico de quedas.

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