Resumo

Os povos negros escravizados, apesar da desumanização e opressão a que seus corpos foram sujeitados conseguiram encontrar muitas estratégias tais como formas de comunicação, sobrevivência e manutenção de seus valores civilizatórios, que, desde a travessia do Atlântico nos navios negreiros, se firmaram e reexistiram nas várias situações cotidianas em contexto diaspórico. Dentre os valores mantidos estão a religiosidade, a musicalidade, a circularidade, a corporeidade e sobretudo a ancestralidade que criam uma maneira de ser negro no Brasil, unem comunidades, resgatam e preservam heranças culturais africanas, estruturam e caracterizam a cultura afro-brasileira ainda nos dias de hoje, em todas as regiões do país. As origens religiosas e as ritualísticas trazidas pelos povos negros, quando não sumariamente proibidas e marginalizadas, foram sincretizadas pelos brancos. Ainda assim, a devoção aos santos negros desde as irmandades integra movimentos sociais que reivindicam para além da preservação e o reconhecimento desses elementos culturais, todo um arcabouço de possibilidades de acessos, histórias e ancestralidades, que foram apagados/ invisibilizados/ extintos, em alguns casos, do imaginário estético e de referências da população brasileira, no que tange não somente a dimensão religiosa, mas também a cultura e a arte. Dentre as religiosidades e musicalidades trazidas e mantidas pelos povos negros, as congadas, heranças dos povos bantus da bacia do Congo, surgem e se afirmam como forma de resistência de tradições africanas, deixadas para o povo brasileiro por homens e mulheres escravizados e violentamente afastados de suas origens. A congada de São Benedito no município de Ilhabela, manifestação religiosa em louvor à São Benedito presente na localidade há mais de 200 anos, dramatiza a história de dois grupos em desentendimento, por ambos quererem festejar São Benedito (cristãos e mouros).

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