Corpo, Musicalidade e Religiosidade na Congada de São Benedito em Ilhabela- São Paulo/ Brasil: reflexões e possibilidades na luta antirracista
Por Jussara De Paula Justino (Autor), Silmara Elena Alves de Campos (Autor).
Em IX Colóquio de Pesquisa Qualitativa em Motricidade Humana
Resumo
Os povos negros escravizados, apesar da desumanização e opressão a que seus corpos foram sujeitados conseguiram encontrar muitas estratégias tais como formas de comunicação, sobrevivência e manutenção de seus valores civilizatórios, que, desde a travessia do Atlântico nos navios negreiros, se firmaram e reexistiram nas várias situações cotidianas em contexto diaspórico. Dentre os valores mantidos estão a religiosidade, a musicalidade, a circularidade, a corporeidade e sobretudo a ancestralidade que criam uma maneira de ser negro no Brasil, unem comunidades, resgatam e preservam heranças culturais africanas, estruturam e caracterizam a cultura afro-brasileira ainda nos dias de hoje, em todas as regiões do país. As origens religiosas e as ritualísticas trazidas pelos povos negros, quando não sumariamente proibidas e marginalizadas, foram sincretizadas pelos brancos. Ainda assim, a devoção aos santos negros desde as irmandades integra movimentos sociais que reivindicam para além da preservação e o reconhecimento desses elementos culturais, todo um arcabouço de possibilidades de acessos, histórias e ancestralidades, que foram apagados/ invisibilizados/ extintos, em alguns casos, do imaginário estético e de referências da população brasileira, no que tange não somente a dimensão religiosa, mas também a cultura e a arte. Dentre as religiosidades e musicalidades trazidas e mantidas pelos povos negros, as congadas, heranças dos povos bantus da bacia do Congo, surgem e se afirmam como forma de resistência de tradições africanas, deixadas para o povo brasileiro por homens e mulheres escravizados e violentamente afastados de suas origens. A congada de São Benedito no município de Ilhabela, manifestação religiosa em louvor à São Benedito presente na localidade há mais de 200 anos, dramatiza a história de dois grupos em desentendimento, por ambos quererem festejar São Benedito (cristãos e mouros).