Resumo

Fanon e Ribeiro apontam a persistente negação dos corpos negros em contextos de maior prestígio social, como, por exemplo, no acesso à educação superior, o que reflete um padrão de exclusão e marginalização dessas pessoas em ambientes acadêmicos. Contudo, dados do Censo da Educação Superior (2021) revelam uma mudança significativa, com mais de 50% dos estudantes autodeclarados na Universidade de Brasília (UnB) se identificando como não-brancos. Esse cenário indica uma maior presença de corpos negros em universidades públicas, o que sugere, ao menos teoricamente, uma possível superação das barreiras históricas de acesso ao ensino superior. No entanto, essa realidade aponta também para a necessidade de se refletir sobre as condições de permanência e as dinâmicas de interação que esses estudantes enfrentam em seus percursos acadêmicos.

Considerando esse panorama, a presente pesquisa busca compreender as mediações e construções de identidade realizadas pelos corpos negros em contextos institucionais, com foco na Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília (FEF-UnB). O objetivo é analisar como os estudantes negros dessa instituição interagem socialmente, especialmente dentro de um ambiente acadêmico que, embora mais acessível, ainda carrega consigo resquícios de exclusão e preconceito. Nesse sentido, a pesquisa se propõe a investigar de que maneira as interações institucionais influenciam as experiências vividas por esses estudantes, questionando-se, particularmente, se as práticas e relações dentro da universidade contribuem para a invisibilização ou discriminação dos corpos negros no contexto acadêmico.

O estudo adota uma abordagem qualitativa e exploratória, com uma metodologia baseada na pesquisa etnográfica. Para tanto, estão sendo realizadas observações etnográficas e entrevistas semi-estruturadas com discentes que ingressaram na FEF-UnB no ano de 2022. A escolha desse recorte temporal visa capturar as experiências de estudantes recém-ingressos, ainda em processo de adaptação e construção de suas trajetórias acadêmicas. A etnografia permite um olhar aprofundado sobre o cotidiano desses estudantes, possibilitando a identificação de aspectos invisíveis nas interações sociais dentro da universidade.

Até o momento, os resultados parciais da pesquisa, a partir das observações etnográficas, sugerem que os corpos negros continuam a ser marcados por preconceitos e práticas discriminatórias, que estão enraizados no racismo estrutural presente na sociedade. Apesar do acesso ao ensino superior, esses estudantes enfrentam desafios significativos relacionados à sua inclusão acadêmica, o que se reflete não apenas nas dificuldades de adaptação, mas também nas barreiras emocionais e psicológicas que surgem a partir de atitudes preconceituosas e segregadoras, muitas vezes sutis, mas profundamente impactantes. Assim, é possível perceber que, mesmo com a crescente presença de estudantes negros nas universidades públicas, o processo de inclusão plena ainda enfrenta desafios consideráveis, evidenciando a necessidade de uma reflexão contínua sobre as práticas institucionais e as condições reais de igualdade no ambiente acadêmico.

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