Corpos Negros Invisibilizados: A Presença de Estudantes Negros na Faculdade de Educação Física da UnB
Por Gustavo Facundes Ferreira (Autor), Laryssa Lima Basílio (Autor), Dulce Maria Filgueira de Almeida (Autor).
Em XX Congresso de Ciências do Desporto e de Educação Física dos Países de Língua Portuguesa
Resumo
Fanon e Ribeiro apontam a persistente negação dos corpos negros em contextos de maior prestígio social, como, por exemplo, no acesso à educação superior, o que reflete um padrão de exclusão e marginalização dessas pessoas em ambientes acadêmicos. Contudo, dados do Censo da Educação Superior (2021) revelam uma mudança significativa, com mais de 50% dos estudantes autodeclarados na Universidade de Brasília (UnB) se identificando como não-brancos. Esse cenário indica uma maior presença de corpos negros em universidades públicas, o que sugere, ao menos teoricamente, uma possível superação das barreiras históricas de acesso ao ensino superior. No entanto, essa realidade aponta também para a necessidade de se refletir sobre as condições de permanência e as dinâmicas de interação que esses estudantes enfrentam em seus percursos acadêmicos.
Considerando esse panorama, a presente pesquisa busca compreender as mediações e construções de identidade realizadas pelos corpos negros em contextos institucionais, com foco na Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília (FEF-UnB). O objetivo é analisar como os estudantes negros dessa instituição interagem socialmente, especialmente dentro de um ambiente acadêmico que, embora mais acessível, ainda carrega consigo resquícios de exclusão e preconceito. Nesse sentido, a pesquisa se propõe a investigar de que maneira as interações institucionais influenciam as experiências vividas por esses estudantes, questionando-se, particularmente, se as práticas e relações dentro da universidade contribuem para a invisibilização ou discriminação dos corpos negros no contexto acadêmico.
O estudo adota uma abordagem qualitativa e exploratória, com uma metodologia baseada na pesquisa etnográfica. Para tanto, estão sendo realizadas observações etnográficas e entrevistas semi-estruturadas com discentes que ingressaram na FEF-UnB no ano de 2022. A escolha desse recorte temporal visa capturar as experiências de estudantes recém-ingressos, ainda em processo de adaptação e construção de suas trajetórias acadêmicas. A etnografia permite um olhar aprofundado sobre o cotidiano desses estudantes, possibilitando a identificação de aspectos invisíveis nas interações sociais dentro da universidade.
Até o momento, os resultados parciais da pesquisa, a partir das observações etnográficas, sugerem que os corpos negros continuam a ser marcados por preconceitos e práticas discriminatórias, que estão enraizados no racismo estrutural presente na sociedade. Apesar do acesso ao ensino superior, esses estudantes enfrentam desafios significativos relacionados à sua inclusão acadêmica, o que se reflete não apenas nas dificuldades de adaptação, mas também nas barreiras emocionais e psicológicas que surgem a partir de atitudes preconceituosas e segregadoras, muitas vezes sutis, mas profundamente impactantes. Assim, é possível perceber que, mesmo com a crescente presença de estudantes negros nas universidades públicas, o processo de inclusão plena ainda enfrenta desafios consideráveis, evidenciando a necessidade de uma reflexão contínua sobre as práticas institucionais e as condições reais de igualdade no ambiente acadêmico.