Cultura do silêncio e educação física escolar: análise de relatos de experiência com as danças

O presente artigo tem por objetivo operar com o conceito cultura do silêncio proposto por Freire (1981) olhando para a prática do currículo cultural de Educação Física (NEIRA; NUNES, 2008; 2009), narrada por professores/as que assumem colocá-lo em ação. O conceito de “cultura do silêncio” foi lançado pelo intelectual Paulo Freire na obra “Ação cultural para a liberdade”, livro que, segundo o próprio autor, diz respeito a um conjunto de textos escritos entre 1968 e 1974, num momento em que o mesmo circulava por países como Bolívia e Chile durante seu exílio político. A “cultura do silêncio” impõe uma condição degradante aos sujeitos, os considera simplesmente como objetos, produzidos dentro de uma realidade opressora, condicionando, assim, a forma de estar no mundo. Buscando fazer alianças com o repertório teórico do currículo cultural, trazemos também para conversa Judith Butler (2018) com o debate acerca da condição precária. Para a autora essa é uma condição que expõe os corpos constantemente à morte, uma vez que a racionalidade capitalista neoliberal está decidindo arbitrariamente quais saúdes e vidas merecem proteção e quais não são dignas. Outra aproximação que fazemos é com Frantz Fanon (2005), com o conceito condenados da terra, que são os sujeitos postos como alvo da cultura do silêncio são os condenados da terra, grupos categorizados como inferiores, empurrados e mantidos na periferia, submetidos a um processo de violência sistêmica de morte, colocados num constante estado de crise há mais de 500 anos. Atravessados por esses conceitos, levantamos as seguintes problemáticas: em que medida as tematizações de dança relatadas por docentes colaboram para rechaçar a “cultura do silêncio”? Tomamos como objeto de análise relatos de experiência publicados no site do Grupo de Pesquisa em Educação Física Escolar da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo entre 2019-2022 que tematizaram a dança. O levantamento possibilitou acessar 13 trabalhos, que se debruçaram sobre os seguintes temas: funk, samba, k-pop, frevo, ciranda, carimbo, jongo.

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