Resumo
A sociedade brasileira apresenta influências marcadas pelas culturas de matrizes africanas e indígenas, porém, quando adentramos nas escolas e analisamos as práticas pedagógicas de grande parte dos/as professores/as, verificamos a quase inexistência destas manifestações culturais, demandando mudanças de mentalidade de toda a comunidade escolar. Assim, aceitarmos o desafio de uma educação pautada na perspectiva destes grupos étnicos é necessário. O presente trabalho analisou uma proposta de ensino que tematiza as práticas corporais africanas e indígenas no ensino fundamental em aulas de Educação Física. Sustentado na concepção do currículo cultural, esta pesquisa visa levar alunos/as e professor-pesquisador a compreenderem como a tematização de tais práticas corporais pode ser importante para a descolonização do currículo. A pesquisa foi realizada de forma qualitativa, durante um semestre letivo, com alunos/as do 5º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública estadual da cidade de Araraquara/SP, na qual o professor-pesquisador, utilizou diários de aula como instrumento de coleta de dados, na intenção de registrar as informações recolhidas durante o processo investigatório, à luz dos procedimentos didáticos e princípios pedagógicos do currículo cultural. Além do mais, o presente trabalho utilizou-se da pequis-ação, valorizando a participação dos sujeitos e a construção de relações democráticas. Para análise e interpretação dos dados coletados foram estabelecidas quatro categorias, a saber: 1. Avaliação sob a égide da análise do currículo cultural, a qual privilegiou o diálogo entre os sujeitos em uma profunda análise da ocorrência social das manifestações corporais; 2. Reconhecimento dos saberes dos/as estudantes, na qual ao mapear as práticas corporais de grupos muitas vezes silenciados possibilitou a tematização das práticas indígenas e africanas; 3. Vivências, diálogos e ressignificações, em que, longe de recorrer a práticas racionalizadas, os/as estudantes elaboraram outras maneiras de vivenciar as manifestações tema de estudo e, 4. Ampliação e aprofundamento do conhecimento, na qual por meio da problematização visou contrapor os discursos fincados nas representações racistas acerca do indígena e do negro. A expectativa do estudo foi de propiciar espaços educativos que possibilitassem o combate à colonialidade, privilegiando as manifestações negras e indígenas e, desta maneira, consideramos poder contribuir para a mudança de mentalidade de educadores/as ao convencerem-se da busca por novos rumos no que concerne às suas atuações docentes.
