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INTRODUÇÃO:

Compreendendo a necessidade da reflexão epistemológica em qualquer área do conhecimento, torna-se importante observarmos que a formação científica e a própria produção do conhecimento caminham por meio de uma normatividade específica, constituída pela observação e análise da prática científica, por meio da qual é possível identificar hipóteses, métodos e teorias, linguagem, perfil da comunidade científica, história da ciência e história das idéias, entre outros aspectos. Tendo como objetivo refletir sobre a produção do conhecimento e a constituição do campo da Educação Física e Ciências do Esporte, nessa pesquisa buscamos evidenciar nuanças em torno da racionalidade que vem caracterizando esse campo de conhecimento, bem como apontar perspectivas para sua organização.

Inicialmente, apresentamos questões relativas à proposição das produções, ao arranjo metodológico no desenvolvimento das pesquisas, bem como as áreas do conhecimento identificadas nesse campo. Compreender a lógica da produção do conhecimento nas Ciências do Esporte poderá contribuir para ampliarmos o debate na Educação Física a respeito de questões que configuram o conhecimento do corpo, do movimento humano, da relação entre natureza e cultura, concepções de ciência e impactos sociais, entre outros. A partir da análise da produção do conhecimento no campo da Educação Física e Ciências do Esporte, buscamos problematizar e apontar perspectivas quanto à sua organização teórica e metodológica.

METODOLOGIA:

Como possibilidade de identificarmos, numa perspectiva panorâmica, a produção do conhecimento no campo da Educação Física e Ciências do Esporte, realizamos uma análise das seguintes produções: "Diagnóstico da Educação Física/ Esportes no Brasil" (Costa, 1971); "Pesquisa e produção do conhecimento" (Faria Jr. & Farinatti, 1992); e "As ciências do Esporte no Brasil" (Ferreira Neto et al, 1995). Como técnica de pesquisa, para a leitura das obras selecionadas, utilizamos a análise de conteúdo, na qual destacam-se três momentos interdependentes: a organização do material ou pré-análise, na qual elaboramos fichas de conteúdo; a codificação ou descrição analítica, na qual destacamos as unidades de significado; e a interpretação referencial, iniciada desde a pré-análise, momento em que se projeta a compreensão da problemática, considerando o referencial teórico, buscando emergir novos núcleos de sentido, para subsidiar nossos metargumentos. Como estratégia para podermos visualizar, de maneira sintética, a produção do conhecimento nessas obras analisadas, configuramos quadros de análises referentes à tipologia dos trabalhos.

RESULTADOS:

Como resultado, apresentamos a seguir uma síntese da analise das obras selecionadas. No que se refere à proposição das produções, evidencia-se a reflexão em torno da questão histórica, metodológica e filosófica no campo da Educação Física e Ciências do Esporte. Nas análises históricas destacam, por exemplo, a realização do diagnóstico da Educação Física e dos esportes no Brasil durante a década de 60; a influência das correntes filosóficas, quais sejam o positivismo, o marxismo e o existencialismo; bem como o desenvolvimento das diferentes áreas do conhecimento inseridas no campo da Educação Física e Ciências do Esporte. Os estudos de orientação metodológica e filosófica enfatizam a reflexão em torno dos paradigmas empírico-analítico, crítico-dialético e fenomenológico-hermenêutico utilizados no desenvolvimento das pesquisas, referentes à estruturação científica e aos fundamentos de diferentes áreas que compõe o campo de investigação da Educação Física e Ciências do Esporte. Na análise, destacam-se as seguintes áreas de conhecimento na composição do campo da Educação Física e Ciências do Esporte: História da Educação Física, Filosofia da Educação Física, Educação, Lazer, Biomecânica, Medicina Esportiva, Fisiologia do Exercício, Biologia do Exercício, Cineantropometria, Aprendizagem Motora e Psicologia do Esporte.

CONCLUSÕES:

Nesse movimento de produção do conhecimento e de sua reflexão na constituição do campo da Educação Física e Ciências do Esporte, Bracht (1995) e Santin (1995) vislumbram barreiras epistemológicas na constituição e identificação desse campo, relacionando sua configuração a partir do modelo da ciência clássica, na qual a racionalidade científica é identificada, em síntese, a partir de um modelo disciplinar, na identificação de um objeto de estudo, do paradigma e de método de pesquisa. Como possibilidade de avançarmos nessa reflexão, Nóbrega (2003) nos chama a atenção para a necessidade de considerarmos problemáticas que atravessam o campo da Educação Física e Ciências do Esporte, no diálogo a partir da pluralidade das áreas de conhecimento inseridas nesse campo, submetendo-o a um arranjo mais flexível do conhecimento, a partir da construção de um campo teórico, de natureza interdisciplinar ou transdisciplinar. Para operar esse arranjo, reconhecendo a diversidade na produção do conhecimento, a autora destaca o corpo e as práticas corporais enquanto problemáticas comuns que atravessam essas diferentes áreas. A partir desse arranjo teórico e metodológico, compreendemos ser possível visualizar perspectivas de fortalecimento e ampliação da Educação Física como área acadêmica, a partir da atividade científica e filosófica observada no interior dessa comunidade, representada, por exemplo, nos programas de pós-graduação strictu-sensu e no Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte.