Resumo

Neste trabalho partimos do corpo como elemento legitimador de um projeto sanitarista de sociedade: projeto de modernidade da intelectualidade médica, que em fins do século XIX foi expresso por um saber elaborado sobre o modelo de ciência que se constituiu historicamente. A política médica se delineava sobre formas de intervenção no cotidiano, na educação e, inclusive, no corpo. A partir da Educação Física escolar, elaboraram-se modelos de “saúde” e de um corpo ideal, desconsiderando-se, porém, o corpo real da população brasileira. Nosso esforço é visualizar este projeto de modernidade que visou a busca de hegemonia de um grupo e o poder/saber médico nesta organização, através de três teses da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, redigidas por Armonde (1874), Matta Machado (1875) e Sá Brito (1891). Utilizamos o referencial dialético materialista histórico para refletir sobre a realidade da época e o processo de medicalização do corpo e da sociedade, que na atualidade mais se intensifica. A idealização de um corpo que nos propusemos a comentar, partindo dos discursos das teses da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (FMRJ), visou demonstrar a elaboração do projeto de modernidade, partindo de um processo de alienação corporal. Processo em que se tem, a partir do século XIX, a intervenção da medicina na Educação Física e nos corpos para torná-los produtivos, saudáveis, viris, robustos e inofensivos. Antes desse momento histórico não se encontra a relação explícita entre saúde e sociedade, embora atualmente esta relação pareça ser óbvia e atemporal. Inaugura-se assim a penetração da medicina na sociedade. Neste ínterim as teses foram fundamentais para o alcance dos objetivos da nova medicina, como fundamento científico e possibilidade de atuação. No período analisado, dos anos 1870 aos anos 1890, os discursos médicos sobre a Educação Física revelaram ser tanto modelos de conhecimento sobre a estrutura corporal e seu desenvolvimento biológico, como propostas de práticas de intervenção social reorganizadora do corpo do brasileiro, para a nova sociedade – sobretudo no Rio de Janeiro, visando a higienização, organização e disciplinamento para o tipo de relações sociais ascendentes.

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