Da Natureza Científica da Educação Física: áreas de Conhecimento, Linhas de Pesquisa e Setores de Atividade
Por Terezinha Petrucia da Nóbrega (Autor).
Integra
INTRODUÇÃO:
Essa pesquisa insere-se no contexto do Projeto Ciência e Tecnologia para o Brasil, desenvolvido pela SBPC, visando promover um amplo estudo de cenários de desenvolvimento científico e tecnológico de diferentes áreas de conhecimento e regiões do país. Esse levantamento irá subsidiar a política de ciência e tecnologia do país, com o delineamento dos grupos de pesquisa, laboratórios, recursos humanos, prioridades e programas estruturantes a longo prazo. O Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE) é uma das Sociedades Científicas (Soci) representadas nesse projeto. Como membros pesquisadores do CBCE, pretendemos contribuir com esse projeto, desse modo objetivamos construir um perfil dos grupos de pesquisa em Educação Física no Brasil, considerando a inserção institucional, localização geográfica, área de conhecimento, linhas de pesquisa e setores de atividade; bem como, diagnosticar a situação de infra-estrutura para a pesquisa e formação de recursos especializados na Educação Física, no sentido de apontar perspectivas de consolidação e expansão dessa área no cenário científico e tecnológico.
METODOLOGIA:
Como técnica de pesquisa utilizamos a análise de conteúdo, considerando como corpus de análise os Grupos de Pesquisa em Educação Física (EF), cadastrados na Plataforma Lattes do CNPq, em 2003. Para cada cadastro, organizamos uma ficha de conteúdo dos 199 grupos, localizando as informações disponíveis sobre as linhas de pesquisa, áreas de conhecimento, sub-áreas e setores de aplicação. Em seguida, agrupamos as linhas de pesquisa, enumerando 21 linhas de pesquisa e seus respectivos registros (ocorrência numérica). O mesmo procedimento foi feito com as áreas e sub-áreas de conhecimento e setores de atividade. A interpretação referencial, iniciada desde a pré-análise, foi intensificada a partir da identificação dos núcleos de sentido. Os núcleos de sentido comportam uma leitura particular das unidades de registro temáticas, contendo elementos que possibilitam a interpretação referencial. Esta por sua vez, foi realizada considerando-se o diálogo com a bibliografia pertinente, a partir da qual projetamos a nossa compreensão da problemática investigada, expressa nos meta-argumentos construídos e nas perspectivas indicadas.
RESULTADOS:
Atividade física e saúde (146 registros); Processo ensino-aprendizagem (53); Desenvolvimento motor (47); EF adaptada (48); Biomecânica (26); Medidas e Avaliação (26); Aspectos sociais e culturais da EF, esporte e lazer(19); História da EF, esporte e lazer(14); Corpo (16); Epistemologia (12). A inserção dos grupos na grande área das ciências da saúde aparece com 182 registros, seguido da inserção de pesquisas na grande área de ciências humanas (37). Confirma-se a inserção expressiva dos grupos de pesquisa na área de EF (180), o que pode ser explicado pela vinculação profissional dos pesquisadores à essa área de conhecimento. Observamos a proximidade com objetos de conhecimento de áreas como fisiologia (16 registros), psicologia (12), nutrição (10) e educação (31). As subáreas correspondem aos desdobramentos das linhas de pesquisa, aproximando-se de temáticas de investigação recorrentes na área como a pedagogia do esporte e da EF (98 registros), biodinâmica (75), desenvolvimento motor (22) história da EF (07), esporte e lazer (14), EF e saúde (35). Os setores de aplicação relacionam-se aos produtos de pesquisa, vinculando-se a atuação profissional da EF. Observamos o destaque para os setores de saúde humana (161) e educação (110). Observa-se o registro para outros setores não especificados na plataforma Lattes (53); Produtos e serviços recreativos, culturais e artísticos (35); formação, administração, gestão, saúde coletiva e políticas públicas (31).
CONCLUSÕES:
Há concentração dos grupos de pesquisa nas regiões sudeste e sul do Brasil, havendo necessidade de programas estrurantes para as demais regiões. Os dados mostram indicadores importantes para compreendermos o desenvolvimento científico da área, temáticas recorrentes e cenários de conhecimento nas sub-áreas e nas grandes áreas. Observa-se princípios de cientificidade relacionados as ciências da saúde, considerando-se a relação histórica da Educação Física com as ciências da saúde; bem como, considerar a dinâmica do desenvolvimento das ciências da vida nesse conjunto e o diálogo entre as ciências biológicas e as ciências humanas, como apontado em vários trabalhos de referência. O desenvolvimento e a valorização da pesquisa coaduna-se com a lógica da cultura científica, em suas polarizações quanto ao mercado e as diferentes compreensões de ciência e mesmo de Universidade. Impõe-se a necessidade de ampliarmos nossas compreensões de ciência, refletindo sobre as limitações do modelo classificatório dos campos de saberes e de uma demarcação disciplinar. Coloca-se a tarefa de considerar a ciência sobre o signo do acontecimento, as múltiplas possibilidades de entrada ou abordagens geram sempre novas interfaces de compreensão/atuação sobre os fenômenos. Essas pontes são sempre transversais, de modo a possibilitar múltiplas entradas, conexões, linhas de fuga, novas descobertas, novos mapas para o conhecimento.