Resumo

A utilização não-terapêutica de drogas anabolizantes está documentada na literatura médica como prejudicial à saúde e, na legislação brasileira, como infração penal ante à Lei das Drogas. Apesar dos alertas em diferentes recantos da mídia, cresce o uso destes medicamentos em meio à população brasileira. Entre os usuários, a maioria deles jovens praticantes de musculação, é possível perceber que muitos não apenas usam tais drogas com o propósito de obter ganho muscular, mas também desenvolvem conhecimentos cada vez mais sofisticados, e de várias ordens, sobre os diferentes efeitos dos anabolizantes no corpo humano visando seu melhor uso. Dada à relevância social deste tema e da relação direta com o campo da Educação Física, o presente relatório de pesquisa versa acerca do empreendimento de uma investigação strito sensu que buscou compreender o processo de aquisição, elaboração e compartilhamento dos conhecimentos acerca do uso de anabolizantes entre estudantes de graduação em Educação Física. O marco teórico que subsidiou este estudo contempla, principalmente, as discussões sobre as formulações de Nikolas Rose acerca das biopolíticas contemporâneas (políticas da própria vida), em articulação com os conceitos de enhancement corporal e expertise, além de também versar acerca da teoria da biossociabilidade de Paul Rabinow e da bioascese de Francisco Ortega. A parte mais densa do material empírico foi obtida a partir de entrevistas episódicas, entretanto, sites da Internet também serviram como fontes de informação complementar no processo de identificação sobre como ocorre a organização e sistematização do aprendizado em ambiente virtual. Os entrevistados descreveram o aprendizado sobre a utilização de medicamentos anabolizantes como algo considerado “proibido” frente aos elementos éticos e jurídicos e envolto em um clima de clandestinidade na formação inicial. A partir das entrevistas foi possível identificar que o aprendizado sobre a utilização dos medicamentos anabolizantes é uma temática que apenas tangencia o percurso curricular formal dos acadêmicos de um curso de Educação Física. Também foi possível identificar, a partir do material empírico, que além da dimensão formal de aprendizagem na Educação Física, estes estudantes encontram, fora da graduação, as seguintes dimensões de aprendizagem sobre o tema: as academias de musculação, os fóruns virtuais da Internet e os coaches, considerados os guias da construção corporal por meio do uso do anabolizante. Há também uma última dimensão de aprendizagem que consiste no momento em que os sujeitos têm sua expertise reconhecida pelos pares do grupo quando, então, tornam-se coaches, passando a aplicar os conhecimentos sobre as modificações corporais não apenas em si mesmos, mas também em outras pessoas.

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