Resumo

A convergência dramática dos "caras pintadas" nas ruas das principais cidades brasileiras em agosto de 1992 tem-gerado interpretações contraditórias, desde as celebrações eufóricas do "renascimento" da resistência estudantil de três décadas atrás, até as manipulações cínicas dos meios de propaganda. Neste ensaio, procuro examinar as manifestações de 1992 em uma perspectiva histórica, analisando tanto as mudanças nas relações sociais, quanto as reformulações político culturais que influíram na participação dos jovens brasileiros nas últimas três décadas. Para compreender as transformações sociais que levaram os jovens da identidade forte de "estudante" nos anos 60 à outra identidade, mais abrangente e ambígua, de "cidadão" nos anos 90, examino as reconfigurações das redes de família, estudo, trabalho, e sociabilidade dos jovens brasileiros; junto com as mudanças na estrutura, das redes dos grupos organizados, e as "pontes articuladoras" que esses estabelecem com setores mais amplos. Na consideração da "cidadania juvenil", aponto para uma reformulação teórica da noção de identidade coletiva - e sua relação com a estrutura ou a posição social questionando as visões estáticas e pré-deterministas que geralmente acompanham tais conceitos. Sugiro que a análise sistemática de "redes" interpessoais e organizacionais, focalizando a "multivalência" de discursos e ações, pode abrir novos caminhos na compreensão de como a cultura política é reformulada através da ambigüidade conflituosa das interações sociais.

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