Definição do tema e planejamento das situações didáticas

Parte de Educação Física cultural inspiração e prática pedagógica . páginas 43 - 58

Resumo

Nos relatos de experiência elaborados pelos professores e professoras que afirmam colocar em ação o currículo cultural da Educação Física é notório o agenciamento26, na definição do tema e planejamento das situações didáticas, pelos seguintes princípios ético-políticos: reconhecer o patrimônio cultural corporal da comunidade, articulação com o projeto político pedagógico da escola, justiça curricular, descolonização do currículo, rejeição ao daltonismo cultural e ancoragem social dos conhecimentos. Operando como dispositivos27 no sentido foucaultiano, esses princípios agenciam os docentes, levando-os a definir a prática corporal que será tematizada e os encaminhamentos pedagógicos necessários para tanto. O princípio não é um ente fixo e inabalável, muito pelo contrário, é uma agência móvel, que varia durante a tematização. Longe de constituir-se como traço negativo, essa flutuação é o que leva o professor ou professora a eleger práticas corporais e planejar situações didáticas que respondam ao caráter multifacetário do cenário escolar. Reconhecer o patrimônio cultural corporal da comunidade com vistas a desenvolver um trabalho educativo em profunda sintonia com a cultura de chegada é o princípio que mobiliza simultaneamente a definição da prática corporal a ser tematizada e uma boa parcela das ações didáticas. Primeiramente, com o intuito de valorizar as raízes culturais da comunidade na qual a escola está inserida, a(s) brincadeira(s), dança(s), luta(s), ginástica(s) ou esporte(s) disponíveis no universo cultural28 dos alunos e alunas são transformadas em temas culturais. Corazza (1997) propôs uma reterritorialização29 dos temas geradores freirianos pela via do pensamento pós- -estruturalista, denominando-os temas culturais. Um tema cultural agrega os conhecimentos à sua volta, está sempre em tensão, nunca apaziguado. Injeta os conhecimentos subjugados no cenário escolar, passando a tratá-los como conteúdos. Por isso, os conhecimentos que qualquer estudante acessa através das mídias, conversas com amigos e familiares, passeios, observações do cotidiano, etc. constituem um referencial importante para ler e traduzir o mundo à sua volta, nele incluídas as práticas corporais (Neira, 2011a).