Determinação das Zonas de Treinamento em Ciclistas de Nível Nacional: Comparações Entre Lactacidemia e Variáveis Ventilatórias
Por C. M. L. F. Silva (Autor), C. A. Kalva-filho (Autor), B. M. G. Martinez (Autor), F. B. Anselmi (Autor), Ronaldo Bucken Gobbi (Autor), R. A. Barbieri (Autor), T. B. Arruda (Autor), Marcelo Papoti (Autor).
Resumo
A determinação das zonas de treinamento em atividades cíclicas é de extrema importância para a periodização do treinamento em alto nível. Para isso, é necessária a determinação tanto do primeiro como do segundo limiar metabólico. Embora a utilização das concentrações sanguíneas de lactato seja amplamente utilizada para estabelecer variáveis fisiológicas, este procedimento possui caráter invasivo. Neste sentido, uma alternativa para a determinação do primeiro e segundo limiar, é a utilização dos coeficientes ventilatórios de oxigênio (VE/ VO2) e gás carbônico (VE/VCO2). Entretanto, embora teoricamente representem o mesmo fenômeno fisiológico, existem resultados conflitantes sobre as relações entre os valores obtidos pela lactacidemia e pelos coeficientes ventilatórios. Com isso, o objetivo do presente estudo foi comparar os limiares metabólicos obtidos por lactacidemia (primeiro: L1; segundo L2) e pelos equivalentes metabólicos (primeiro: V1; segundo: V2). Sete ciclistas de nível nacional (peso = 69,3±8,8 kg; estatura = 179,6±3,0 cm) foram submetidos a um teste incremental com intensidade inicial de 70W e incrementos de 35W no mínimo a cada dois minutos. L1 foi assumido como a intensidade onde as [La-] aumentaram 1mM com relação ao repouso e L2 foi determinado pela concentração fixa de 3,5 mM. V1 e V2 foram assumidos como o último ponto a partir do qual ocorreu um aumento sistemático da VE/VO2 e VE/VCO2, respectivamente. Os valores de consumo de oxigênio (VO2), ventilação (VE) e a percepção subjetiva de esforço (PSE) relacionados aos limiares metabólicos, foram determinados por meio de interpolação linear com a intensidade. Não foram observadas diferenças significativas entre L1 e V1 para a intensidade (L1= 3,5±0,7 W.Kg-1; V1 = 3,3±1,2 W.Kg-1), valores de VO2 (L1 = 45,5±7,0 mL.Kg-1.min-1; V1 = 46,0±11,1 mL.Kg-1.min-1) e VE (L1 = 86,1±24,1 L; V1 = 76,4±18,2 L). Os valores de PSE foram diferentes entre as metodologias (L1 = 4,2±1,0 u.a.; V1 = 3,0±1,2 u.a.; p=0,02). Entretanto, apenas os valores de velocidade foram significativamente correlacionados (r=0,80). Os valores de L2 e V2 apresentaram tendência a diferença para intensidade (L2= 4,6±0,7 W.Kg-1; V2 = 4,1±0,6 W.Kg-1; p= 0,049), PSE (L2 = 4,3±0,8 u.a.; V2 = 5,6±1,5 u.a.; 0,062) e VE (L2 = 103,7±32,5 L; V2 = 115,1±32,3 L; p= 0,07). Além disso, foram significativas as diferenças para o VO2 (L1 = 51,1±6,5 mL.Kg-1.min-1; V1 = 57,9±4,3 mL.Kg-1.min-1; p= 0,03). Apenas a VE foi correlacionada entre as duas metodologias (r=0,91). Desse modo, pode-se concluir que em atletas de nível nacional, os limiares metabólicos determinados pelos equivalentes ventilatórios parecem não representar o mesmo fenômeno fisiológico determinado pela lactacidemia.