Resumo
A presente dissertação de mestrado tem como tema de estudo as diferentes infâncias e a prática pedagógica dos professores de Educação Física (EF) da Rede Municipal de Ensino de Portão/RS (RMENP). Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, realizada em três escolas, com a colaboração de quatro docentes de EF atuantes em turmas de Educação Infantil. A escolha do tema de pesquisa surge a partir das minhas reflexões acerca da prática pedagógica do professor de EF na Educação Infantil. Entendo a infância atravessada por marcadores, além dos biológicos, de contexto histórico, econômico, político e de condições sociais em que a criança vive. Nesse sentido, analisando minha experiência docente, propus as seguintes indagações: de que forma um professor de EF articula sua prática pedagógica para contemplar as infâncias presentes em suas aulas? Essas diferentes infâncias são identificadas e interpretadas pelo professorado de EF nas escolas? Com base nessas inquietações, construí o problema de pesquisa, cuja pergunta-chave se constitui na seguinte questão: como as diferentes infâncias são interpretadas pelos professores de Educação Física da Educação Infantil e como esse entendimento influencia a sua prática pedagógica? De modo a buscar elementos empíricos que ajudassem a responder a problemática do estudo, elegi como decisão metodológica a etnografia. Essa escolha é coerente com os objetivos da pesquisa, na medida em que me permite compreender o que os professores fazem, desde sua perspectiva, mediados pela sua cultura e pela cultura escolar em que estão imersos. O trabalho de campo teve duração de cinco meses, e por meio dos registros no diário de campo, das observações dos participantes, diálogos, entrevistas semiestruturadas e análise documental, articulados com a revisão de literatura, foi possível construir as seguintes categorias de análise: (1) Infância, escola e família; (2) Da infância dos professores à formação acadêmica; (3) A prática pedagógica dos professores de EF e as diferentes infâncias. Frente às mudanças da sociedade, a escola é compreendida como uma instituição além de educadora também assistencial. Esses elementos colaboram para uma construção social da infância que se articula por vários fatores, como: gênero, organização familiar, situação socioeconômica, crenças, cultura, etnias e religião. Assim, a materialização dessas diversidades pode gerar atitudes de isolamento, timidez, agressividade, aproximação ou afastamento com o docente. Dessa forma, há uma demanda por novas estratégias e atribuições na prática pedagógica dos professores de EF. Essa prática pedagógica está alicerçada pela cultura dos docentes, que é a articulação da sua infância, história escolar e formação acadêmica. Por fim, analiso que há professores que formulam uma concepção ingênua de infância. Apesar de perceberem as diferentes infâncias no seu contexto escolar, não há articulação consistente com sua prática pedagógica por ela estar alicerçada prioritariamente nos aspectos motores, sem referenciar questões socioculturais.