Diversidade, inclusão e equidade no esporte: um olhar sob o ponto de vista da gestão de organizações esportivas

A partir da década de 60, veem-se discutindo a diversidade nas organizações com relação à formalização e implementação de políticas internas e a existência no ambiente das instituições de ações de coibição de comportamentos discriminatórios ou contrários à diversidade (Saraiva & Irigaray, 2009). No ambiente esportivo esta discussão também toma corpo, uma vez que a maioria dos postos de liderança nas organizações esportivas ainda são ocupados por homens brancos, heterossexuais, cisgênero, sem deficiência. Entretanto essas organizações não estão imunes à influência da pressão exercida pela sociedade para um ambiente mais equânime (Doherty & Chelladurai, 1999), ou seja, o aumento da diversidade é esperado nessas organizações, entre voluntários e profissionais, atletas, treinadores, dirigentes, funcionários e gestores. Há um movimento a partir de princípios de governança que também tem cobrado equipes de gestão mais diversas nas organizações esportivas, e para além, que essas pessoas sejam incluídas nos processos de decisão e controle nas organizações (Parent & Hoye, 2018). Ainda que haja pressão social, das organizações internacionais de administração do esporte, legislações e elementos econômicos que empurram as organizações esportivas para a criação e manutenção de equipes de gestão mais diversas e inclusivas, a compreensão de como a diversidade e a inclusão são gerenciadas nessas instituições ainda é um elemento central de discussões (Cunningham, Fink, & Zhang, 2021). Além disso, vem ganhando destaque e sendo orientado a realização de pesquisas que levem em consideração a interseccionalidade das opressões no esporte (Cunningham, Fink, & Zhang, 2021; Lavoi & Dutove, 2012), ou seja, quando uma pessoa é oprimida e excluída com base na categoria social em que se encaixa como a sexualidade, classe ou raça simultaneamente (Akotirene, 2019). Objetivo: Esta pesquisa tem como objetivo geral o desenvolvimento de uma cartilha de Diversidade, Inclusão e Equidade em Organizações Esportivas, de forma a servir de base para gestão e avaliação de ações e políticas nestas instituições. Metodologia: Esta pesquisa possui abordagem qualitativa, se caracteriza como exploratória e descritiva, e será desenvolvida em três fases (Jones & Gratton, 2004; Pitts, Li, & Kim, 2018). Na Fase 1 será realizada uma Revisão Integrativa do tipo Teórica e Empírica sobre a Gestão de Diversidade, Inclusão e Equidade em Organizações Esportivas com intuito de revisar as teorias em torno do tópico estudado e identificar práticas e ações realizadas pelas organizações. Na Fase 2 será realizada uma Pesquisa Documental, quando serão selecionadas organizações esportivas nacionais e internacionais que possuem implementados programas e projetos relacionados a diversidade, inclusão e equidade na organização. Na Fase 3 serão realizadas entrevistas semiestruturadas em profundidade com gestores(as) das organizações esportivas analisadas na Fase 2 e pesquisadores da área de Diversidade, Inclusão e Equidade na Gestão do Esporte e realizada análise de conteúdo (Bardin, 2016), com intuito de identificar as ações e políticas afirmativas em organizações esportivas; comparar com o arcabouço teórico; e organizar um conjunto de dimensões/categorias que possam representar a gestão da diversidade, inclusão e equidade adotada em organizações esportivas e também apresentadas pela literatura em formato de cartilha. Principais Resultados: Os resultados previstos das duas primeiras fases do projeto, abrangem dados relativos à notável ausência de normalizações documentadas quanto às ações práticas e políticas de gestão de diversidade e inclusão nas organizações esportivas nacionais e internacionais, que na atualidade buscam enunciar quantitativamente a diversidade, que é identificada em áreas específicas da instituição. Na Fase 3, é esperado combinar os dados coletados por meio do arcabouço teórico, dos documentos, e das práticas realizadas pelas organizações, de forma a reunir informações necessárias para construir um modelo de práticas de diversidade, inclusão e equidade em organizações esportivas. Considerações Finais: Pressupondo este projeto como uma pesquisa em andamento, subentende-se a regularização dentro das organizações esportivas como fundamental para o alcance e a manutenção da diversidade e inclusão neste meio. A maior visibilidade dos atletas motiva mudanças mais diligentes quanto às ocupações não hegemônicas nestes cargos em comparação a outros que apresentam maior poder de decisão nas organizações, mas que ainda são anunciados incessantemente como parcelas sem um acompanhamento verídico de sua inclusão. Implicação teórica e prática: A análise documental em efetuação realizará a verificação sobre a presença de ações práticas e de políticas afirmativas para a promoção de diversidade e inclusão nas organizações esportivas, visto que este debate é cada vez mais inquirido sobre a sua validez dentro dessas organizações, para isso haverá a averiguação dessas condutas pela realização de entrevistas que auxiliarão na elaboração de uma cartilha de referência para o alcance da prática regulamentada dessas ações. Discutir o contexto das organizações esportivas, as barreiras e dificuldades para a implementação de ações e políticas de diversidade e inclusão, e a discussão de boas práticas podem auxiliar na mudança do cenário atual, trazendo um impacto social. Além disso, a execução desta pesquisa será uma contribuição teórica importante no cenário internacional e nacional, ao refinar e enriquecer o debate conceitual da diversidade e inclusão na gestão do esporte, e debater a questão da diversidade e inclusão em organizações esportivas de forma ampla e integrada.