Resumo

Um número significativo de revistas brasileiras de Educação Física realizou um importante esforço de melhoria na última década, que resultou em uma posição mais destacada de parte delas em bases de dados internacionais. Contudo é ainda necessário aprofundar, discutir e explicitar alguns aspectos do processo editorial que repercutem favoravelmente na manutenção deste padrão. Esclarecimentos acerca da política editorial, das funções dos editores e dos comitês, das instruções aos avaliadores e aos autores, dos direitos autorais e licenças dos artigos são cruciais para manter a credibilidade, a qualidade e o rigor no sistema de comunicação científica. Em função de diferentes demandas, julgamos importante prestar alguns esclarecimentos neste editorial quanto ao escopo da nossa revista.

Desde o primeiro número de 2003, a Movimento tomou a decisão de abordar temas relacionados ao campo da Educação Física em interface com as Ciências Humanas e Sociais, mais especificamente em seus aspectos pedagógicos, históricos, políticos e culturais. Tal decisão nos permitiu focar o trabalho de divulgação científica de conhecimento produzido dentro dessa interface, que sempre foi majoritária mesmo quando o escopo da revista abrangia os diferentes segmentos da Educação Física. A aposta nesta direção foi recompensada: em 2009 a Movimento foi indexada na base de dados Thomson-Reuters, mais especificamente na Social Sciences Citation Index, que afere o fator de impacto de revistas da área das Ciências Humanas e Sociais. Dois anos mais tarde, a revista recebeu a classificação A2 no Qualis-CAPES da área da Educação Física, e desde o ano passado é classificada neste mesmo estrato também na área da Educação. Em 2012, em função desse perfil, a revista passou a receber financiamento do CNPq via Coordenação Geral do Programa de Pesquisa em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.

O direcionamento do escopo à interface Educação Física/ Ciências Humanas e Sociais permitiu que a revista galgasse um patamar difícil de imaginar dez anos atrás. Hoje, quando completa 20 anos de existência, temos convicção de que a revista passou a ser vista pela comunidade da área como um patrimônio científico-cultural da Escola de Educação Física da UFRGS e, ousamos dizer, deste campo no Brasil. Condição que só foi possível conquistar por meio da dedicação árdua, assídua e sistemática de um coletivo de professores e funcionários da Escola de Educação Física da UFRGS, bem como de outros tantos colaboradores mundo afora. A manutenção de um patrimônio desse porte demanda o cultivo de responsabilidades compartilhadas pelos diferentes atores que direta ou indiretamente “fazem” a revista, especialmente em um tempo de aridez produtivista que tem embotado a criatividade acadêmica e a inovação científica.

Uma das formas de cuidar e cultivar a herança que nos foi legada é procurar cumprir à risca a política editorial e assegurar com o máximo de rigor possível o enquadramento dos artigos dentro do escopo da revista. Responsabilidade que não é só da equipe editorial ou dos avaliadores, mas também dos autores que submetem seus artigos. Para uma revista que há mais de dez anos se propõe a divulgar a produção científica da interface Educação Física/Ciências Humanas e Sociais, é muito complicado ainda ter um índice de rejeição de artigos fora do escopo próximo de 20%. Este percentual de submissão interfere diretamente no processo avaliativo de todos os demais, ainda mais se levarmos em conta que o número médio de submissões por ano gira em torno de quase 400 artigos, mesmo que estes artigos sejam rejeitados sem passar por todo o ciclo avaliativo. Por isso, é preciso que os autores analisem detalhadamente o escopo, a linha editorial e as normas da revista para evitar o endereçamento equivocado do manuscrito, para que possamos tornar mais célere o processo de avaliação, comunicação e divulgação da produção nesta área específica.

Este número está composto por 14 artigos originais, três ensaios e uma resenha. Destacamos os Artigos Originais: Imaginario social de la Educación Física construido desde las “teen series” de televisión españolas, de Isaac Pérez López, Enrique Rivera García e Carmen Trigueros Cervantes; Corpos na escola: reflexões sobre Educação Física e religião, de Ana Carolina Capellini Rigoni e Jocimar Daolio; Intervenção do profissional de Educação Física, gestão intersetorial e territorialidade: o caso do programa BH cidadania, de Carolina Gontijo Lopes e Hélder Ferreira Isayama; Fontes de conhecimento percebidas pelos treinadores: estudo com treinadores de andebol da 1ª divisão de seniores masculinos em Portugal, de Ana Filipa Vasquez Paulo Cunha, Maria Luísa Dias Estriga e Paula Maria Fazendeiro Batista; Burlando o círculo mágico: o esporte no bojo da gamificação, de Gilson Cruz Junior; Escárnio de corpos, cyberbullying e corrupção do lúdico, de Cynara Gonçales, Giuliano Gomes Pimentel e Beatriz Pereira; A abordagem midiática sobre o esporte paralímpico: perspectivas de atletas brasileiros, de Renato Francisco Rodrigues Marques, Gustavo Luis Gutierrez, Marco Antonio Bettine de Almeida, Myrian Nunomura e, Rafael Pombo Menezes; Estádio do Maracanã na memória de seus frequentadores, de Ana Beatriz Correia de Oliveira Tavares e Sebastião Josué Votre; Modelo do jogo de futsal e subsídios para o ensino, de Rafael Batista Novaes, Thiago André Rigon e Luiz Eduardo Pinto Bastos Tourinho Dantas; O processo Bolonha e seus efeitos no campo das ciências da atividade física e do esporte em Espanha, de Ana Márcia Silva, Susanna Soler, Núria Puig e Maria Prat; World of Warcraft como prática de lazer: sociabilidade e conflito “em jogo” no ciberespaço, de Leoncio José de Almeida Reis e Fernando Renato Cavichiolli; Reflexões sobre uma experiência investigativa com a capoeira, de Flávio Soares Alves e Yara Maria de Carvalho; Os sentidos da escola e da Educação Física para estudantes e docentes de uma rede pública municipal, de Lisandra Oliveira Silva e Vicente Molina Neto; As origens do vale-tudo na cidade de Curitiba-PR: memórias sobre identidade, masculinidade e violência, de Daniella de Alencar Passos. Na seção de Ensaios: Corpo e natureza em MerleauPonty, de Terezinha Petrúcia da Nóbrega; Sob rédeas curtas, de cabelos longos: reflexões sobre mulheres no hipismo, de Vanessa Silva Pontes e Erik Giuseppe Barbosa Pereira; A atividade física na Espanha diante da dialética modernidade-pós-modernidade: o caso dos centros esportivos, de Cornelio Aguila e Álvaro Sicilia Camacho. Na seção Resenhas temos A bola ao ritmo de fado e samba: 100 anos de relações luso-brasileiras no futebol 1913-2013, de Juan Antonio Simón Sanjurjo.

Desejamos uma ótima leitura e vida longa para a revista Movimento... Brindemos!

Alex Branco Fraga, Elisandro Schultz Wittizorecki, Ivone Job

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