Resumo

No contexto da história da construção dos currículos escolares no Brasil, os conhecimentos e culturas trazidos do continente africano para esse território foram sistematicamente negligenciados (SILVA, 2005). Visando eliminar as desigualdades raciais, o combate ao racismo e a valorização das africanidades, a Lei 10.639/03 institui a obrigatoriedade do ensino de história da África e dos africanos no currículo escolar do ensino fundamental e médio (BRASIL, 2003), que possibilita tematizações de tensões étnico-raciais, evidenciando a corporeidade negra e valorizando as africanidades (REIS, 2021). Assim, estabelecer uma abordagem que produz e incorpora saberes e culturas que historicamente foram silenciadas e invisibilizadas na escola e na educação física escolar, faz-se necessário (SILVA, 2005; REIS, 2021). Este trabalho tem como objetivos identificar e analisar possibilidades e desafios para o trabalho com a corporeidade negra e africanidades numa perspectiva decolonial nas aulas de educação física, nos anos iniciais do ensino fundamental. O trabalho desenvolvido se caracteriza como uma pesquisa qualitativa (GERHARDT; SILVEIRA, 2009), sob a perspectiva da pesquisa-ação, visando estabelecer uma relação entre pesquisador e participantes através da intervenção e contribuições no processo de pesquisa. As participantes voluntárias foram professoras do componente de educação física e estudantes de duas escolas municipais, do 5º ano, dos anos iniciais do ensino fundamental, do município de Bauru, estado de São Paulo, Brasil. A pesquisa de campo contou com os diários de campo do pesquisador e das professoras participantes como instrumento de coleta de dados. A análise dos dados coletados foi realizada por meio da análise de conteúdo (GERHARDT; SILVEIRA, 2009), na dimensão do ensino e aprendizagem, composta por duas categorias: corporeidade e educação das relações étnico-raciais e decolonialidade e africanidades na educação física escolar. Na categoria corporeidade e educação das relações étnico-raciais identificou-se uma necessidade de se estabelecer relações e estratégias pedagógicas nas aulas de educação física escolar que possam propiciar o conhecimento, a reflexão e vivências de culturas e práticas corporais, excluindo o olhar eurocentrado e tendo como referência os povos que produziram/produzem essas culturas.

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