Educação física e a educação para um pensar e agir ético

Parte de A Ética e a Bioética na Preparação e na Intervenção do Profissional de Educação Física . páginas 21 - 28

Resumo

É um fato bastante auspicioso e significativo que em um Congresso de Educação Física estejamos discutindo a “preparação profissional para uma intervenção ética”. Para que a nossa conversa seja produtiva, eu gostaria de iniciar explicitando alguns dos sentidos que a palavra “ética” possui na sociedade hoje. Em primeiro lugar, especialmente tratando-se de um encontro de uma categoria profissional, encontramos a palavra ética muito usada para se referir à “ética profissional”. Por exemplo, no Código de Ética dos Profissionais de Educação Física (CEPEF), de 2003, (os capítulos de I a V) encontramos um conjunto de princípios, normas, direitos, responsabilidades, infrações e punições que regem o trabalho dos profissionais dessa área. Sem dúvida, as categorias profissionais precisam de um código de ética profissional para que a profissão possa ser exercida de uma forma regulamentada. Além disso, o código dá aos indivíduos profissionais uma clareza sobre como atuar correta e legalmente, além de possibilitar que a categoria possa se proteger contra os maus profissionais. Apesar da importância do código de ética dos profissionais da educação física, eu não vou enfocar esse tema, não somente porque não sou profissional da área, mas também porque penso que não é o tema central do painel, que quer discutir a intervenção ética dos profissionais dessa área. Campo de intervenção que vai além da coletividade que compõe essa categoria profissional. Um segundo sentido que encontramos na sociedade é o de conjunto de normas de comportamentos morais que regem uma comunidade ou um grupo social. Este sentido da ética, ou também conhecido como a moral, tem semelhança com a ética profissional, só que não se refere somente a uma categoria profissional e não é tão codificada. Todos os grupos sociais necessitam de um conjunto de valores e normas morais que possibilitem uma convivência intragrupal. E um dos valores importantes da moral de um grupo é a solidariedade entre os membros do mesmo grupo. Solidariedade que nasce em parte da consciência de pertencer a um mesmo grupo e de compartilhar os meus valores e normas e que permite a reprodução e o desenvolvimento do grupo. No CEPEF, encontramos uma referência explícita a esse tema no artigo A Ética e a Bioética na Preparação e na Intervenção do Profissional de Educação Física 20 8 º : “no relacionamento com os colegas de profissão, a conduta do Profissional de Educação Física será pautada pelos princípios de consideração, apreço e solidariedade”. Uma característica que deve ser notada ao falarmos desse tipo de moral grupal é que esses valores e normas servem para os membros do grupo, mas não necessariamente são aplicados para indivíduos fora do grupo ou para outros grupos sociais. Isto é, não tem pretensão de universalidade. Muitas vezes, o grupo pode pressupor um duplo padrão de exigência moral. Por exemplo, para os membros, a solidariedade, honestidade e respeito, e para os “estrangeiros” ou estranhos, dominação e trapaça. Um exemplo extremo desse tipo de duplo padrão é a moral que rege uma família mafiosa. Muitos teóricos distinguem o conceito de ética de moral exatamente para superar esse tipo de comportamento de duplo padrão moral ou costumes morais opressivos com uma reflexão crítica sobre os princípios, critérios e normas morais vigentes em sociedades concretas. A ética seria então uma reflexão teórica e crítica sobre os comportamentos e valores morais estabelecidos em uma determinada comunidade humana ou em uma sociedade tendo como referência princípios éticos que possam ser universalizados ou pelo menos aplicados para todos os grupos envolvidos nas relações e ações humanas e sociais que envolvem aspectos morais ou éticos. Essa preocupação também aparece no CEPED no Preâmbulo, VII. Feita essa breve distinção, eu quero enfocar a minha contribuição sobre o tema que acho mais relevante e que aparece nos primeiros parágrafos do CEPEF. Cito: “Considerando a responsabilidade do Conselho Federal de Educação Física como órgão formador de opinião e educador da comunidade para compromisso ético e moral na promoção de maior justiça social; (...) Considerando que um país justo e democrático passa pela adoção da ética na promoção de atividades físicas, desportivas e similares, (...) Considerando a necessidade de mobilização dos integrantes da categoria profissional para assumirem seu papel social e se comprometerem, além do plano das realizações individuais, com a realização social e coletiva (...) – e no Preâmbulo – Este Código propõe normatizar a articulação das dimensões técnica e social com a dimensão ética, de forma a garantir, no desempenho do Profissional de Educação Física, a união do conhecimento científico e atitude, referendando a necessidade de um saber e de um saber fazer que venham a efetivar-se como um saber bem e um saber fazer bem”.