Resumo

A Educação Física enquanto componente curricular do 1º e 2º graus foi analisada numa perspectiva sociológica, objetivando: (1) estabelecer a influência da política educacional nas suas propostas pedagógicas, durante o período 1930-1986: (2) investigar a origem histórica destas propostas; e (3) elaborar um modelo sociológico da Educação Física, obtido a partir da Sociologia da Educação e da Sociologia do Esporte. A abordagem metodológica foi feita com base na teoria dos sistemas. A técnica de pesquisa envolveu a coleta e análise de conteúdo de documentos legais e textos especializados produzidos na época em questão. O exame histórico dos séculos XVIII e XIX revelou que os sistemas ginásticos europeus, surgidos num contexto de nacionalismo e militarismo, e o movimento esportivo inglês, de caráter liberal-aristocrático, formaram a base institucional da Educação Física no mundo atual. O esporte foi analisado como fenômeno social e detectada sua influência sobre a Educação Física. Evidenciou-se também a necessidade de uma reflexão pedagógica sobre o esporte, para integrá-lo como meio da educação formal. A investigação histórica da Educação Física no Brasil permitiu distinguir quatro fases. O período 1930-1945 foi a fase de estabelecimento das bases da Educação Física nacional, para a qual convergiram os interesses do Estado, do sistema militar e dos educadores, centrados no nacionalismo, preparação militar, eugenia e busca da higiene/saúde. O período 1946-1967 foi de relativa retração do apoio à Educação Física por parte do Estado, ao mesmo tempo em que se iniciou um questionamento das bases pedagógicas estabelecidas. O período 1969-1979 marcou a ascensão do Esporte à razão de Estado, a inclusão do binômio Educação Física/Esporte na planificação estratégica do governo e a esportivização da Educação Física Escolar. O período 1980-1986 caracterizou-se por um profundo questionamento das bases da Educação Física e uma radical mudança de referenciais conceituais, com a ascensão da concepção sócio-política da Educação Física. Concluiu-se que a mudança das concepções pedagógicas e dos modelos de homem desejados não são fatores suficientes para explicar as mudanças ao nível da prática pedagógica do trinômio professor-aluno-matéria de ensino, fazendo-se necessário uma análise da atividade física enquanto um fenômeno sui-generis. Foram identificadas algumas variáveis pedagógico-didáticas e sócio-psicológicas envolvidas na ativação dos mecanismos de sociabilização e formação da personalidade presentes no processo ensino-aprendizagem em Educação Física. O comportamento destas variáveis foi analisado nos métodos utilizados pela Educação Física no período (Método Francês, Método Desportivo Generalizado e Método Esportivo). Um modelo sociológico sistêmico foi proposto com base nos seguintes elementos: (1) política educacional; (2) objetivos do sistema escolar; (3) objetivos educacionais da Educação Física; e (4) processo ensino-aprendizagem. Considerou-se também a influência da herança histórica e dos interesses do sistema militar e esportivo. A finalidade do sistema foi definida como a formação da personalidade humana para atuar no meio social. Concluiu-se, à luz da teoria dos sistemas, que a Educação Física, enquanto um sistema hierárquico e aberto, possui uma tendência auto-integrativa, de submeter-se ao todo social, respondendo aos estímulos da política educacional e de outros sistemas sociais, mas também uma forte tendência auto-afirmativa, de agir como um subsistema autônomo, dificultando a implantação de mudanças ao nível da relação professor-aluno-matéria. O modelo sistêmico proposto revelou-se útil para explicar a trajetória da Educação Física no período 1930-1986.

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