Resumo
Fundamentada nos princípios da perspectiva freireana, esta pesquisa se propôs a identificar, no âmbito da Educação Física, elementos que pudessem ser entendidos como caracterizadores de uma prática pedagógica favorecedora do processo de constituição da autonomia dos alunos. Para isso, realizou-se um estudo de caso sobre o trabalho de uma professora de Educação Física com um grupo de alunos da 3ª série do ensino fundamental. Essa professora, que atua numa escola pública da rede estadual paulista de ensino, foi selecionada a partir de indícios prévios que levavam a crer que a sua prática pedagógica fosse favorecedora da autonomia discente e, com base nessa hipótese inicial, buscou-se apreender as características e especificidades dessa prática. As informações necessárias à elucidação do problema de pesquisa foram produzidas pelos seguintes procedimentos: observação das aulas, entrevista semiestruturada, encontro reflexivo e análise de documentos. Os dados obtidos evidenciaram duas categorias estruturantes da prática pedagógica focalizada: 1) problematização e dialogicidade e 2) o exercício da autoridade docente democrática. A primeira delas divide-se em três subcategorias: a) valorização dos sabres dos alunos, b) experiências participativas e estimuladoras da decisão e c) implicações sociais, culturais, políticas, econômicas e ideológicas dos conteúdos, cada uma delas constituída por elementos específicos. A segunda não contém subdivisões e foi diretamente analisada a partir de seus elementos constitutivos. Evidenciou-se também uma terceira categoria explicativa a reflexão crítica sobre a própria prática , que possibilitou uma melhor compreensão dos aspectos identificados nas duas categorias anteriores. Os resultados confirmaram a hipótese inicial e revelaram que uma prática pedagógica entendida como favorecedora da autonomia dos alunos, além de possuir um caráter essencialmente democrático, concretiza-se a partir de uma constante disponibilidade para a transformação, sustentada pelas relações estabelecidas entre o fazer e o pensar sobre fazer e pelo reconhecimento crítico dos fatores que condicionam e limitam o trabalho educativo. Do mesmo modo, foi possível concluir que todas essas características eram próprias de uma professora autônoma e que, portanto, a possibilidade de desenvolvimento da autonomia dos alunos está ancorada na autonomia dos professores, o que reitera a necessidade de se questionar as atuais condições de formação e de exercício da docência