Resumo

O presente estudo foi motivado por uma questão primordial: como os professores de educação física se apropriam do conhecimento acadêmico disseminado na formação superior, cotejado com outras formas do saber inerentes às suas distintas trajetórias de vida, no sentido de explicar, justificar, legitimar, atribuir sentido e significado às suas práticas pedagógicas no cotidiano escolar? Pressupondo que os saberes docentes perpassam um conhecimento tácito sobre o papel social do professor, a pesquisa em questão teve por objetivo descrever "o que fazem" esses professores durante suas práticas pedagógicas, e "como justificam aquilo que fazem" à luz das distintas formas do saber. Trata-se de uma investigação sobre os "saberes na ação" docente, e tem por finalidade descrever parte da "cultura profissional" dos professores de educação física. Os pressupostos teórico-metodológicos da pesquisa colocam-na sob a rubrica qualitativa. Fundamenta-se nas ciências sociais e baseia-se em "conceitos descritivos", que consideram não somente o que os homens são na sua natureza, mas, sobretudo, aquilo que "habita" esses homens, tais como os sentidos e significados que atribuem à vida e a tantas outras coisas. Inspirado na tradição do "fazer etnográfico", o estudo persegue uma "descrição densa", que é, ao mesmo tempo, segundo Clifford Geertz, interpretativa, visto que visa interpretar o fluxo do discurso social; microscópica, uma vez que não há interpretações antropológicas em grande escala; e de segunda mão, já que o pesquisador não tem acesso ao discurso social, mas a uma pequena porção dele trazida à compreensão pelos informantes. Apesar das divergências do ponto de vista teórico-analítico, o método etnográfico é caracterizado pelo processo interativo em campo, quando é priorizado o ponto de vista do "outro" ¿ do sujeito de pesquisa ¿, construído no bojo das tensões de identidade e alteridade entre pesquisador e pesquisados, e produto do encontro intersubjetivo entre eles. É nesse sentido que a presente pesquisa se caracteriza como um "estudo etnográfico", que se dedicou a descrever os "saberes na ação" de três professores de educação física que atuam nas séries iniciais do ensino fundamental, em escolas da rede municipal de ensino da cidade de Jundiaí-SP. A escolha dos sujeitos levou em consideração vários critérios de exclusão, reduzindo os 70 docentes da rede a um grupo de apenas cinco professores, dentre os quais somente três foram tomados como sujeitos de pesquisa. Esses últimos, além de representarem a classe profissional naquele contexto particular, caracterizavam-se como grupo ¿ condição básica para a etnografia ¿, visto que possuíam vínculo estável e duradouro com as suas respectivas escolas. A observação das aulas e o constante diálogo com os docentes possibilitaram a "tradução" de fatos e questões inerentes aos saberes docentes, mais especificamente aos "saberes na ação" que, apesar de atinentes ao cotidiano escolar, na maior parte das vezes encontram-se recônditos. Em última análise, a relação intersubjetiva entre pesquisador e sujeitos de pesquisa permitiu um olhar mais atento às idiossincrasias da docência em educação física.

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