Resumo

Este trabalho se propõe a dar continuidade a temática solidariedade que vem sendo investigada no âmbito da Educação Física escolar como possibilidade de avançar em uma perspectiva de educação que considere o ser como totalidade, na qual a dimensão solidária seja privilegiada como componente da sua humanização. Objetivou investigar como o solidarizar-se se constrói corporalmente e manifesta-se na vivência do saber ser, conviver, conhecer, e fazer na perspectiva de uma Educação Física solidária. Como premissa afirmamos a proposta por Mariotti (2000), entendendo que a construção do saber solidarizar-se poderá se dá na dinâmica da corporeidade do olhar, do esperar, do dialogar, do amar e do abraçar, constituindo-se a base para o aprender a conhecer, fazer, conviver e ser solidário. Como opção metodológica acolhemos a abordagem colaborativa que se estruturou a partir de diversos dispositivos mediadores como o questionário e entrevista temática, a narrativa de formação, o observação participante, o seminário de estudo reflexivo, a aula-laboratório, a filmagem e a sessão reflexiva. O grupo colaborativo foi composto por duas professoras de Educação Física, no qual nos incluímos, e duas turmas de terceira série do ensino fundamental de uma Escola Municipal. Como síntese podemos constatar que esse saber fazer que permeia as ações pedagógicas nesse estudo apresenta uma perspectiva colaborativa solidária e tem suas raízes em uma metodologia que utiliza a problematização como possibilidade de resolução dos conflitos que vão surgindo nas relações interpessoais do cotidiano escolar. A professora age como elemento mediador desses conflitos, empregando o diálogo como fonte desencadeadora do processo reflexivo e através de questionamentos mobilizadores, permite o avanço na compreensão dos alunos, podendo surgir consensos partilhados sem a confrontação que nossa cultura privilegia e é tão evidente nas práticas predominantes da Educação Física. A Educação Física escolar tem, portanto, a responsabilidade maior com a educação da dimensão espíritocorporal do ser pela condição de ter como corpo epistêmico a cultura do movimento, e por essa condição, deve ser potencializadora do aprimoramento das possibilidades físicas, mentais, sociais e espirituais como ato de comprometimento com a construção histórica de um mundo mais harmonioso. E como expressão de amor essa educação materializa-se nas interações humanas de um fazer colaborativo partilhado. É assim uma educação de corpo, alma e espírito, dimensionada para toda a vida, mas inacabada pela incompletude dos homens, por isso contínua nas dimensões pessoais e interpessoais, adotando todas as vertentes de saberes com as mesmas valorações, porém, voltadas para um agir ético e justo, por conseguinte, um agir movido pela solidariedade que existencializa-se na corporeidade humana. Em síntese podemos concluir que a iteração dos saberes que sustentam a perspectiva de uma educação solidária, o conhecer, o fazer, o ser e o conviver se fundamentam e se materializam na ação docente do cotidiano escolar, se alimentam do entrecruzamento entre as experiências vividas na formação profissional e pessoal, e se reestruturam na dinâmica da vida. São, portanto, sementes plantadas no coração e na razão dos alunos que precisam ser cultivadas para a emergência da solidariedade humana.

Arquivo