Resumo
A depressão é uma doença psiquiátrica crônica que produz alteração do humor caracterizada por distúrbios do sono e de apetite e é considerada uma das doenças mais mentalmente incapacitantes do mundo. O tratamento para a depressão consiste na combinação de abordagens não-farmacológicas, como psicoterapia, e tratamentos farmacológicos. Um fármaco que vem sendo muito utilizado para tratar a depressão é o cloridrato de cetamina. Entretanto, cada vez mais surgem evidências de prejuízos cardiovasculares decorrentes do uso crônico de cetamina. Ao passo que a prática regular de atividade física vem sendo cada vez mais preconizada como coadjuvante no tratamento da depressão, o treinamento físico promove efeitos benéficos sobre o sistema cardiovascular. Sendo assim, a hipótese deste estudo é de que o treinamento físico pode atenuar e/ou prevenir os efeitos deletérios da cetamina sobre o sistema cardiovascular. Portanto, o objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos do treinamento físico sobre morfometria e função cardíacas, parâmetros hemodinâmicos e autonômicos em ratos Wistar tratados com cloridrato de cetamina. Para isso, 24 ratos Wistar foram divididos em 4 grupos (n=6 em cada): controle (S), treinado (T), sedentário tratado com cloridrato de cetamina (SC) e treinado tratado com cloridrato de cetamina (TC). O tratamento com cloridrato de cetamina foi realizado 3 vezes por semana, durante 8 semanas (ip, 10mg/kg). O treinamento físico foi aeróbio em esteira (50-70% da capacidade máxima de corrida, 1 hora/dia, 5 dias/semana, 6 semanas). Ao final do protocolo, os animais foram canulados para registro direto de pressão arterial (PA) e frequência cardíaca (CODAS, 2kHz). Um dia após a cirurgia, foram realizados o registro basal e a análise da sensibilidade barorreflexa, com fenilefrina e nitroprussiato de sódio. Além disso, foi realizada a análise da modulação autonômica cardiovascular no registro basal. Os dados são apresentados como média±erro padrão, analisados através de ANOVA two way (p<0,05). Os resultados demonstram que o tratamento crônico com cloridrato de cetamina induz perda de peso corporal, aumento adicional na capacidade de corrida nos animais treinados (vs. animais treinados controles), redução na fração de encurtamento do ventrículo esquerdo, aumento da PA sistólica, diastólica e média, aumento da frequência cardíaca, e prejuízo na taquicardia reflexa comandada pelo barorreflexo. Por outro lado, o treinamento físico aeróbio parece ser promissor para impedir os prejuízos hemodinâmicos, visto que os animais treinados tratados com cetamina não apresentaram redução na fração de encurtamento do VE, nem aumento de PA (nem sistólica, nem diastólica, nem média), nem prejuízo na taquicardia reflexa. Além disso, o TF promoveu bradicardia de repouso (grupos T e TC). Esses resultados demonstram o papel protetor do treinamento físico, impedindo o aparecimento de prejuízos cardiovasculares após o uso crônico de cloridrato de cetamina.