Resumo
Apesar do constante esforço da área da Educação Física Escolar em buscar estratégias pedagógicas que possam tornar as aulas no Ensino Médio mais significativas e inclusivas, ainda percebemos no cotidiano escolar situações de afastamento de estudantes nas atividades propostas pelos professores. Em busca de uma Educação Física mais justa e inclusiva, nos inspiramos nos pressupostos político-pedagógicos de Paulo Freire para o desenvolvimento deste estudo, que teve como objetivo compreender as experiências de estudantes do Ensino Médio com as aulas de Educação Física e desenvolver uma situação de aprendizagem voltada para o enfrentamento da opressão. Com uma abordagem qualitativa, o estudo foi realizado em uma escola pública em Indaiatuba/SP a partir dos pressupostos da pesquisa participante com 31 estudantes de uma turma da 1ª série do Ensino Médio e a professora-pesquisadora. Foi realizada uma intervenção pedagógica com duração de 13 semanas, sendo os dados produzidos por meio dos seguintes instrumentos: (a) aplicação de questionário inicial com os(as) estudantes; (b) registros de aulas (incluindo materiais produzidos pelos(as) estudantes, como cartas, mural e fotografias); (c) diário de campo da professora; (d) grupo focal com os(as) estudantes. Os dados foram analisados através da análise temática e os resultados foram organizados em dois temas: (a) exclusão, vergonha e medo de errar: relações opressoras de gênero e habilidade; (b) coconstrução de um senso de coletividade. Os dados evidenciaram que o afastamento de estudantes esteve relacionado às relações opressoras baseadas em gênero e habilidade, com destaque para a exclusão das meninas e de meninos “menos habilidosos”. Os(as) estudantes relataram situações em que, mesmo participando, não se sentiam incluídos nas aulas. Outra barreira percebida foi que as práticas pedagógicas se limitavam ao predomínio da competição e do conteúdo esportivo. Notamos que a intervenção possibilitou aos estudantes uma inserção crítica na realidade das aulas e uma aproximação a situações que antes passavam despercebidas, tanto por eles(as) quanto pela professora-pesquisadora. Os resultados indicam uma mudança nas relações pessoais entre a turma, melhorando a convivência entre eles(as) e criando um senso de coletividade. Observamos indícios de uma maior participação nas aulas, mas percebemos que o processo construído com eles(as) se mostrou mais relevante ao se ampliar a escuta e valorizar o diálogo, pois foi possível uma atuação mais democrática. Reconhecemos a necessidade de seguir criando espaços de luta por uma educação que seja verdadeiramente libertadora.