Resumo

Embora haja evidentes e cada vez mais frequentes transformações sociais remodelando antigas tradições e perspectivas quanto às indagações de gênero, nota-se que ainda são perseverantes o preconceito e a descriminação para com o sexo feminino. Ao analisar a mulher na sociedade ocidental, nota-se que o papel social e biológico, geralmente esteve atrelado ao âmbito privado dos afazeres domésticos e maternos, a mulher fora privada de exercitar-se fisicamente com intuito de não se desviar sua função social (GOELLNER, 2009). Fato este mais perceptível em espaços que outrora eram essencialmente masculinos: como é o caso dos esportes de combate. Por conseguinte, este artigo objetiva analisar o retrato social de uma modalidade esportiva, o boxe, a partir dos relatos memorialísticos de uma mulher brasileira já detentora de um cinturão de campeã mundial, Rosilete dos Santos. O presente estudo não visa realçar aspectos técnicos ou normas e regulamentos do boxe feminino, mas sim, analisar a singularidade da trajetória de vida, em toda a amplitude da dimensão sociocultural, de uma atleta paranaense. Este projeto foi pautado nos procedimentos da história oral – essa uma metodologia considerada um recurso eficaz e de extrema importância histórica já que dá voz aos excluídos. Sendo a “História Oral é o registro da história de vida de indivíduos que, ao focalizar suas memórias pessoais, constroem também uma visão mais concreta da dinâmica de funcionamento da trajetória do grupo social ao qual pertence” (LOZANO, 2002). Foram desenvolvidos para este projeto, eixos norteadores – tidos aqui, como “esferas” – que contribuíram para a organização e o direcionamento das entrevistas. Tendo como temas centrais, o viés familiar, profissional e social, que se ramificam no roteiro das entrevistas em subtemas e questões mais objetivas. A hipótese foi a de que os pré-conceitos massificados a respeito da masculinidade nos esportes de combate, mais especificamente no boxe, geram desconforto com a presença do sexo feminino na modalidade, e que tal assertiva iria se materializar no relato da colaboradora. Em virtude do que foi mencionado neste estudo, nota-se que é evidente o aumento da participação feminina, nos mais diferentes níveis de envolvimento e comprometimento para com os esportes de combate. Sendo que a conquista desse espaço tipicamente masculino, tem sido tarefa árdua e vingado com o esforço de precursoras, como a nossa colaboradora.