Resumo
O objetivo deste estudo foi investigar a influência do contexto esportivo no status de identidade de atletas de futebol de campo. Foram sujeitos do estudo 120 atletas de futebol de campo do sexo masculino nascidos no período de mil novecentos e noventa a mil novecentos e noventa e cinco, que praticavam futebol de campo em escolas de formação vinculadas a um clube da primeira divisão do campeonato brasileiro de futebol, do estado do Paraná. Como instrumentos foram utilizados: Escala de Motivação para o Esporte, Inventário Atlético de Estratégias de Coping, Inventário de Estilos Parentais e uma entrevista semi-estruturada. A coleta de dados foi realizada nas escolas de formação esportiva do clube em horários agendados com os professores/técnicos. Para análise dos dados quantitativos foram utilizados: o teste Levene, o teste Kruskal-Wallis com post hoc Mann-Whitney, ANOVA de um fator, com post hoc Bonferroni, ANOVA de medidas repetidas e o teste Alpha de Cronbach para avaliar a confiabilidade dos dados. Os dados qualitativos foram avaliados através da análise de conteúdo do tipo categorial. Os resultados evidenciaram: maior índice de autodeterminação, maior variabilidade de estratégias de coping e maior estilo parental de suporte ao longo do desenvolvimento da carreira esportiva; na transição no domínio atlético os atletas apresentavam uma preferência pelo futebol de campo em detrimento a outras atividades; os atletas na fase de especialização já eram tratados como profissionais, e evidenciavam a carreira esportiva com perspectiva de futuro e de crescimento financeiro; na fase de investimento a dedicação ao futebol era exclusiva, os atletas estavam profissionalizados e participavam de competições nacionais e internacionais; no domínio psicológico observou-se a percepção do futebol de campo como uma atividade com significado e importância para os pais, os atletas demonstraram amadurecimento com a continuidade no contexto do futebol e satisfação com o papel de jogadores de futebol, que lhes promovia destaque social, apesar da percepção dos esforços necessários para alcançar o alto desempenho; no domínio psicossocial a família se manteve como principal elemento de suporte para os atletas em todas as fases do desenvolvimento atlético, os atletas evidenciaram dificuldades no distanciamento da família e para estabelecer relacionamentos interpessoais dentro e fora do clube, restringindo, na fase de investimento, o foco das amizades a pessoas de dentro do clube; no domínio acadêmico os atletas apresentaram dificuldades em manter a vida de estudante e de atleta, havendo a percepção da importância dos estudos como uma alternativa à carreira de atleta; o ambiente esportivo foi caracterizado como restrito em relação às atividades executadas ao longo da carreira esportiva; o foco dos relacionamentos interpessoais foi direcionado ao contexto esportivo com o decorrer do desenvolvimento da carreira. Os papéis variados na fase de experimentação diminuíram, se restringindo ao de atleta na fase de investimento; os status de identidade evidenciados nos atletas de futebol de campo da fase de investimento foram o de execução e conquista. Os atletas no status de execução mostraram menor autodeterminação (motivados extrinsecamente), com menor variabilidade de estratégias de coping e percepção de suporte e superproteção pelos pais; os atletas com status de conquista demonstraram ser autodeterminados, com diversas estratégias de coping e com suporte dos pais no desenvolvimento. Assim, concluiu-se: as características do contexto do futebol de campo podem influenciar no desenvolvimento do atleta, restringindo suas experiências, relacionamentos interpessoais, vivência de papéis, dificultando o desenvolvimento em outros domínios, podendo então afetar no status de identidade dos atletas e na continuidade do ciclo de vida.