Evidências psicométricas de validação de instrumento: análise de responsabilidade social corporativa em organizações esportivas
Por Mariana Klauck Beirith (Autor), Gabriel Henrique Treter Gonçalves (Autor), Alexandra Folle (Autor).
Resumo
Ainda que o surgimento dos clubes, uma das estruturas que deram origem à gestão do esporte, tenha sido impulsionado majoritariamente por motivos sociais e de integração, hoje parte das organizações esportivas opera de forma semelhante às grandes empresas do meio corporativo. Dada essa configuração, as expectativas (econômicas, legais, éticas, filantrópicas etc.) depositadas nas organizações passam a ser conferidas às entidades esportivas, por uma sociedade que compreende o esporte como fenômeno de transformação, com alta capacidade de mobilização e potencial de retorno à comunidade, o que se conceitua como Responsabilidade Social Corporativa (RSC). Objetivo: Construir e apresentar evidências de validade de conteúdo do Inventário de Fatores Organizacionais para Implementação de Responsabilidade Social Corporativa no Esporte (IFORSCE). Metodologia: Utilizou-se da investigação instrumental, que objetiva analisar as propriedades psicométricas dos instrumentos de medida, seguindo testes de validação (Ato, López & Benavente, 2013). O instrumento foi elaborado com base no questionário utilizado por Walters e Tacon (2011), ao analisarem as ações de RSC em clubes e federações europeias de futebol. A fim de se aproximar do contexto que se objetiva investigar, realizou-se uma associação da literatura da área com as características da gestão esportiva brasileira e, para tal, as questões foram organizadas em cinco diferentes fatores organizacionais, com três itens cada. O processo de validação de conteúdo contou com o encaminhamento da matriz analítica do IFORSCE para 11 especialistas da área, para atuarem enquanto juízes-avaliadores. Os critérios para seleção dos especialistas foram: 1) possuir doutorado em Educação Física; 2) possuir publicações na área da gestão do esporte; 3) ser gestor brasileiro de futebol. Foi necessário que o convidado atendesse pelo menos os dois primeiros critérios em conjunto, ou pelo menos o terceiro critério para participar da validação. Os sete especialistas que aceitaram participar do processo avaliaram o instrumento nas dimensões de clareza de linguagem, relevância teórica e pertinência prática, a partir de uma escala ordinal graduada em cinco pontos, indo de 1 (pouquíssima clareza, relevância ou pertinência) a 5 (muitíssima clareza, relevância ou pertinência). Os cálculos do Coeficiente de Validade de Conteúdo (CVC) foram realizados conforme as recomendações de Cassepp-Borges, Balbinotti e Teodoro (2010). Adotou-se para a pesquisa, o valor mínimo recomendado de CVC > 0,80 (Hernandez-Nieto, 2002). Principais resultados: O IFORSCE é composto por 18 itens e dividido em duas seções. A primeira, denominada ‘Maturidade da RSC na organização’, conta com cinco perguntas fechadas, com opção de respostas ‘sim’ e ‘não’ sobre a organização interna da entidade em relação às ações de RSC, utilizada para classificar os clubes entre alta e baixa implementação. A cada resposta positiva, um ponto é concedido à entidade, sendo que o limiar utilizado para tal separação será determinado pela mediana dos resultados. Os indicadores escolhidos para determinar a maturidade das ações envolvem orçamento, estratégia, comunicação, avaliação e especialização (Walters & Tacon, 2011; Baumann-Pauly et al., 2013; Zeimers et al., 2021). A segunda seção visa identificar os cinco principais fatores organizacionais das organizações esportivas: conhecimento sobre RSC; porte da entidade; profissionalização; sustentabilidade financeira; e capacidade de inovação. Tais fatores (com exceção do primeiro) serão avaliados a partir de três itens, sendo o limiar considerado para determinar o resultado do fator de pelo menos dois pontos. O fator ‘conhecimento sobre RSC’ será avaliado a partir de uma única pergunta de múltipla escolha, no qual o gestor deverá indicar o conceito que acredita ser mais adequado para definir a RSC. Nesse caso, o limiar de avaliação será de um ponto. Para verificar o ‘porte da entidade’, será levado em consideração: 1) volume de receita anual; 2) número de sócios-torcedores; 3) número de colaboradores (com exceção dos atletas), por meio de perguntas abertas.