Resumo
A prática regular de exercício físico impacta favoravelmente na conservação e na promoção do estado de saúde individual. Também, um estilo de vida saudável pode resultar em importantes benefícios sociais e psicológicos. Os motivos que levam as pessoas a praticarem exercício físico de maneira sistematizada destacam-se como elementos importantes para a manutenção dessa prática. Desta forma, torna-se de extrema importância identificar e monitorar os principais comportamentos motivacionais associados à prática de exercício físico de sujeitos adultos, mediante o dimensionamento de um conjunto de afirmações ou razões que são frequentemente apresentados para a sua prática, independentemente do perfil de prática habitual de atividade física. Considerando a carência de instrumentos de medida que possam auxiliar na identificação desses fatores, assim como a escassez de informações relacionadas aos principais aspectos motivacionais relacionados à prática do exercício físico, torna-se importante a realização de estudos que possam contribuir para uma melhor compreensão dos fatores motivacionais para a prática de exercícios físicos. Portanto, o presente estudo procurou reunir três objetivos fundamentais: (a) identificar as propriedades psicométricas do instrumento Exercise Motivations Inventory (EMI-2), traduzido para o idioma português, em uma população universitária; (b) caracterizar os fatores motivacionais relacionados à prática de exercícios físicos; e (c) descrever indicadores quanto à prática habitual de atividade física em função de selecionados indicadores sociodemográficos. A população de referência para o estudo incluiu universitários de ambos os sexos, matriculados no ano letivo 2008 nos 42 cursos de graduação oferecidos pela Universidade Estadual de Londrina, Paraná. A amostra selecionada de maneira probabilística por conglomerados envolveu 2380 sujeitos. Com relação aos indicadores sociodemográficos foram levantadas informações quanto ao sexo, à idade, à etnia, às medidas de peso corporal e estatura relatadas, ao histórico da prática de exercício físico e esporte, ao estado civil, à moradia, ao trabalho remunerado e ao nível econômico da família. As informações quanto aos fatores motivacionais para a realização de exercícios físicos foram obtidas mediante a aplicação do instrumento Exercise Motivations Inventory (EMI-2), traduzido e validado para o idioma português, enquanto a percepção da prática habitual de atividade física foi obtida por intermédio do Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) em seu formato curto, versão 8, tendo como referência a última semana. A análise dos dados envolveu procedimentos da estatística descritiva e análise de variância para identificação de eventuais diferenças entre os estratos considerados. As características psicométricas do instrumento EMI-2 foram tratadas mediante análise fatorial, estimativas do α Cronbach e cálculo do índice de concordância kappa. Para estabelecer a extensão das associações entre os indicadores sociodemográficos e os níveis de prática habitual de atividade física recorreu-se aos valores de odds ratio, estabelecidos por meio dos recursos da regressão logística binária. A partir dos resultados encontrados no presente estudo pode-se inferir que o EMI-2 é um instrumento capaz de reunir informações quanto aos comportamentos motivacionais relacionadas à prática do exercício físico entre os estudantes universitários brasileiros. Após discretas modificações no instrumento original e identificação de suas propriedades psicométricas, foi sugerida versão adaptada do instrumento em idioma português. Na opinião dos universitários analisados, dentre os fatores que motivam ou que por ventura poderiam motivá-los para a prática do exercício físico, entre as mulheres, destacaram-se os fatores “Controle de Peso Corporal” e “Aparência Física”. No caso dos homens, foram os fatores associados à “Competição” e à “Condição Física”. Os universitários com mais idade (≥ 30 anos) mostraram-se mais motivados para a prática de exercício físico que seus pares mais jovens, sobretudo quanto aos fatores motivacionais relacionados à “Reabilitação de Saúde”, à “Prevenção de Doenças” e ao “Controle do Peso Corporal”. Os universitários pertencentes à classe econômica familiar mais elevada demonstraram ser mais motivados para a prática de exercício físico em comparação com os universitários pertencentes à classe econômicas familiar menos privilegiadas, destacando-se os fatores “Controle de Peso Corporal” e “Aparência Física”. Os fatores motivacionais para a prática do exercício físico relacionados ao “Prazer e Bem-Estar”, “Controle do Estresse”, “Aparência Física” e “Condição Física” foram os que menos motivaram os universitários que frequentavam os cursos da área de humanas. Por outro lado, os universitários das áreas jurídica e social, exata e tecnológica, saúde e biológica apontaram grau de motivação similar nos dez fatores de motivação considerados no estudo. No que se refere ao tempo de participação em programas de exercício físico, à medida que aumentou o tempo de participação dos universitários em programas de exercício físico, os graus de motivação vinculados aos fatores “Prazer e Bem-Estar”, “Controle de Estresse”, “Reconhecimento Social”, “Afiliação” e “Competição” tornaram-se significativamente mais elevados. Ou seja, os universitários que já estão inseridos em programas sistematizados de exercícios físicos por um maior tempo se motivam mais para essas dimensões, provavelmente, por já terem boa consciência sobre os cuidados quanto à prevenção de doenças, controle do próprio peso corporal e, também, pelos benefícios de ordem neurofisiológica induzidos pela prática sistemática de exercícios físicos. Por outro lado, entre os universitários que relataram não praticar exercícios físicos, o grau de motiva.o relacionado às dimensões “Prevenção de Doenças” e “Controle do Peso Corporal” foi significativamente mais pronunciado. Os universitários com sobrepeso manifestaram-se mais motivados para a prática de exercício físico em razão dos fatores relacionados à “Reabilitação de Saúde” e a “Prevenção de Doenças” que seus pares com menores valores de massa corporal. Ao confirmar as informações relacionadas ao nível de prática habitual de atividade física, a prevalência de sedentarismo entre os universitários foi de 33,3%. Os sujeitos mais jovens demonstraram ser mais ativos que seus pares com mais idade, principalmente naquelas atividades físicas que envolvem a realização de esforços físicos de intensidade vigorosa. As mulheres apresentaram risco estimado de comportamento sedentário superior em comparação aos homens. Os universitários de classe socioeconômica mais elevada demonstraram maiores riscos de apresentarem comportamento sedentário, assim como aqueles que frequentavam cursos da área de ciências humanas em comparação com os que frequentavam cursos da área de ciências biológicas e da saúde.