Resumo

O trabalho pretende discutir o tema da filosofia como formação cultural e seu ensino mediante diferentes lugares no corpo teórico de Theodor W. Adorno, elementos que se complementam e possibilitam visualizar uma concepção de filosofia em sua obra que se concretiza em sua própria prática docente e em sua atividade como intelectual. Isso significa buscar compreender, em primeiro lugar, o que Adorno entende por filosofia ou, mais especificamente, por uma filosofia que esteja vinculada a um projeto de emancipação para, depois, buscar saber como ele próprio fez de sua teoria uma espécie de prática em que sua convicção da possibilidade ainda transformadora daquela se efetivasse, fosse enquanto intelectual crítico de seu tempo ou como professor, inserido no contexto universitário e responsável, também, pela formação filosófica de inúmeros acadêmicos. A fim de traçar os contornos da concepção de filosofia defendida por Adorno e o modo como ela se entrelaça com sua atividade docente e intelectual, o trabalho se estrutura em três capítulos. No primeiro, discute-se o conceito de formação cultural como utopia presente em seu pensamento e as dificuldades a ele relacionadas, principalmente, a semiformação, entendida como uma forma de subjetivização na sociedade contemporânea que contraria o interesse de emancipação. Este ainda é central para a educação defendida por Adorno, assim como para sua concepção de filosofia, entendida como um modo de pensar que contribui para a autonomia do indivíduo, principalmente na medida em que o torna capaz de pensar sobre a realidade e sua vida em sociedade, resistindo às tendências de dominação. No segundo capítulo do trabalho, procura-se mostrar de que modo a filosofia pode ser concebida na obra de Adorno, sem perder de vista o ideal da formação cultural, com o qual ela se entrelaça ao erguer a pretensão de criar uma consciência verdadeira nos sujeitos. Esse modo de entender a filosofia acaba por implicar uma atividade de reflexão dialética, assim como crítica, encarando as contradições que se colocam ao pensamento como reflexo das contradições reais presentes na sociedade. Nesse sentido, surge como elemento fundamental à atividade filosófica o seu momento expressivo, o qual poderá ser observado na própria obra de Adorno, que não segue uma forma analítica ou dedutiva de exposição, mostrando-se como resistência à reificação. Finalmente, o último capítulo trata da filosofia e de seu ensino na obra e prática de Adorno. A relação de imanência entre teoria e práxis marca a atividade de Adorno como intelectual, preocupado com a intervenção pública que cabe aos teóricos quando estão comprometidos com a crítica social e com uma sociedade emancipada, ou como professor, para quem o contato com os alunos se revela como uma possibilidade de promover um pensar livre. Sua preocupação esteve voltada, igualmente, para a prática docente. Recusou-se a reduzir a filosofia a uma disciplina, mostrando como ela era próxima, senão praticamente idêntica, à formação cultural. Adorno, como professor, ofereceu materialidade à sua filosofia ao fazer coincidir sua concepção acerca dela com seu próprio exercício, sendo exemplo daquilo que ele tanto prezava: um teórico que faz da sua teoria uma prática crítica, dialética e comprometida com o ideal de uma sociedade emancipada na qual os indivíduos poderiam ser livres e autônomos. 

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