Resumo
Analisa a forma como o tema da Fisiologia circulou na imprensa pedagógica e de variedades da Educação Física e como os atores e autores do período, de 1930 e 1940, buscavam utilizar este saber e os sub-temas que lhe dão suporte para orientar o campo da Educação Física. Objetiva identificar as lutas de representações nos impressos e compreender como foi realizada a transposição didática dos discursos e práticas das ciências fisiológicas para os usos escolares, que buscavam significar a Educação Física no espaço da escolarização. Toma como referência o desenvolvimento do método Francês como projeto pedagógico, que nasce no final do século XIX e início do século XX. Metodologicamente utiliza o conceito de lutas de representações (Chartier), tática, estratégia e consumo (Certeau), o paradigma indiciário (Ginzburg) e a crítica documental (Bloch), para dar a ver o movimento de circulação e de apropriação dos discursos sobre a Fisiologia e os seus usos escolares. Como fontes, utilizamos impressos como o Regulamento no 7 e os impressos pedagógicos e de variedades que circularam entre as décadas de 1930 e 1940, assim como as Portarias e os Decretos que regulavam o plano de ação das disciplinas escolares. Como hipótese, trabalhamos com a possibilidade de que as matérias produzidas sobre os temas da Fisiologia, e publicadas nas revistas, circulavam como um dispositivo para atender a uma inquietação expressa no Regulamento no 7, qual seja, de que haveria dificuldade, por parte dos professores, de se apropriarem das proposições científicas e pedagógicas que o manual apresentava para a orientação da nova cultura escolar da Educação Física, o que fez com que vários impressos nascessem, a partir de 1932, para fazer a mediação entre a orientação oficial e os professores nas suas atividades de ensino e avaliação. Concluímos que os usos escolares do Regulamento no 7 não foi um ponto pacífico entre os intelectuais do período, muitos atores buscaram tornar-se protagonistas do processo de transposição didática das teorias científicas em projetos de orientação das práticas dos professores, ocorrendo uma luta de representações entre autores que tinham diferentes propostas sobre os usos dos exames antropométricos e fisiológicos para a classificação dos alunos, a organização das turmas e a execução das aulas de Educação Física no recém criado sistema educacional implantado por Getúlio Vargas e seus ministros.