Futebol e as subjetividades dissidentes
Por Flávio Nunes dos Santos Júnior (Autor).
Resumo
O presente trabalho diz respeito à tematização do futebol realizada com estudantes de sétimo e oitavo ano de uma escola pública da rede municipal da cidade de São Paulo entre os anos de 2019 e 2020 - momento pré-pandemia. Influenciado pelo debate do currículo cultural (NEIRA; NUNES, 2008; 2009), iniciou-se perguntando às/aos estudantes quais experiências já tiveram, quais acontecimentos acerca do futebol sabiam. Realizamos vivências. A partir dessa dinâmica, admitiu-se como intenções da prática pedagógica: vivenciar e experimentar o futebol; analisar a ocorrência social do futebol no território onde a escola se situa; identificar as subjetividades autorizadas, ou melhor, as não autorizadas a jogarem. Em poucas semanas, o trabalho foi atravessado por diálogos envolvendo a promoção de atividades no mês de novembro. Na unidade tinha-se a pretensão de realizar atividades voltadas à pauta racial. Uma dinâmica muito questionável, pois realiza apenas passeios sobre um tema complexo. Passado esse período tudo se volta à branquitude, aliás, este pouquíssimo tempo para debater a cultura afro-brasileira e africana é pertencente à manutenção do status quo, à racionalidade dominante (colonial, patriarcal, capitalista). Em meio às inquietações, percebemos ser viável conectar a tematização de futebol às intenções do trabalho que a unidade programou para o mês. Ao saber que o território é constituído por vidas negras, trabalhadores e trabalhadoras, consideramos ser de grande valia abrir espaço para esses sujeitos narrarem suas experiências com a prática do futebol na região. Para isso, convidamos representantes do futebol de várzea, moradores da nossa comunidade. Além dessas conversas, realizamos vivências, algumas subjetividades se articulavam para ocupar o centro da quadra. “Quem estava envolvido?”. Maioria meninos. Mas quais meninos? Aparentemente aqueles que carregavam em seus corpos as habilidades requiridas na modalidade, tinha também alguns que nem dominavam os códigos, mas pelo simples fato se serem meninos já estavam credenciados a atuarem. E os demais? Onde estavam os demais, a dissidência? Estavam na lateral, encostados no alambrado. “Por que vocês não vão jogar?”. “Eu não sei”. “Ah, eu não gosto”. Reorganizamos a dinâmica, problematizamos a possibilidade de reconfigurar as cenas; meninos e meninas jogaram juntos, somente meninas. Findou-se 2019.