Futebol e Poluição Atmosférica: os Detalhes São Invisíveis Aos Olhos?
Por Gustavo Oneda (Autor), Wesley Marçal (Autor), João Pedro Souza Ferreira (Autor), Alysson Enes (Autor), Danilo Fonseca Leonel (Autor), Ramon Cruz (Autor).
Resumo
INTRODUÇÃO: A partida de futebol impõe ao praticante desgaste fisiológico consideravelmente superior ao nível basal, com impacto importante para o sistema respiratório. E o jogo é realizado (usualmente) em estádios/ambientes abertos. Assim, os praticantes podem ficar mais expostos à elevada concentração de poluentes atmosféricos, com destaque para o material particulado com diâmetro de 2,5µm [MP2,5]. O agravo desta exposição ocorre devido ao aumento da ventilação minuto ( E) durante o esforço ou seja, maiores volume e frequência respiratórios. Observa-se ainda respiração predominantemente oral, menor temperatura do ar ventilado a cada ciclo e ressecamento das mucosas do trato respiratório, diminuindo a capacidade de filtragem natural do organismo. Embora sejam conhecidas as razões pelas quais a elevada taxa de E aumenta a exposição, seria importante descrever o quão maior é o volume de MP2,5 inalado durante jogos de futebol. OBJETIVO: Descrever a quantidade total de MP2,5 que é inalado durante a partida de futebol profissional e amadora, a partir de dois níveis distintos de poluição. MÉTODO: A frequência cardíaca (FC) média durante jogos de nível profissional (NP, 170 bpm) e nível amador (NA, 161 bpm) foram consideradas para análise (valores publicados previamente). Em repouso, o valor de referência foi de 60 bpm. A E foi estimada a partir da FC, com equação preditiva E = exp (1,162 + (0,021 ‧ FC)), publicada/validada previamente. Em seguida, as concentrações de MP2,5 = 15 µg‧m -3 , descrita como limite desejável, e de 60 µg‧m -3 , considerada como não desejável, foram utilizadas para os cálculos. Por fim, a quantidade de MP2,5 inalado se deu pela equação MP2,5 total = E ‧ 90min ‧ [MP2,5] / 1000. RESULTADOS: Na condição MP2,5 = 15 µg‧m -3 , a quantidade total de MP2,5 inalado em jogos de NP e NA foram 153,26 e 126,86 µg, respectivamente. Para a concentração de 60,0 µg‧m -3 os valores foram de 613,02 µg (NP) e 507,45 µg (NA). Ou seja, o NP inala 17,6% mais MP2,5 do que o NA. Considerando o repouso vs NP, há 10,1 vezes mais inalação de MP2,5 durante o jogo. Para o repouso vs NA, inala-se 8,3 vezes mais MP2,5. CONCLUSÃO: Para mesma concentração de MP2,5, o nível do jogo de futebol provavelmente condiciona o volume de MP2,5 inalado, com maior quantidade em partidas NP do que em NA. Adicionalmente, no jogo pode haver aproximadamente 8,0 (NA) e 10,0 (NP) vezes mais MP2,5 inalado do que em repouso. Por fim, os resultados apresentados devem ser considerados com importantes ressalvas: i. Os dados não foram tratados com estatística inferencial, ii. Um desenho experimental, com forte validade ecológica, precisa ser estabelecido para confirmar (ou não) as sugestões apresentadas com relação a deposição e ainda, para estabelecer os possíveis efeitos para o desempenho e saúde dos jogadores.