Resumo

A década de 1950 foi marcante para a história da ginástica para todos (GPT), doravante denominada ginástica geral (GG), pois, segundo Santos e Santos (1999), foi nela que houve a primeira participação do Brasil numa World Gymnaestrada (WG), em 1957, o maior evento internacional desta prática. Esta representação se deu por um único grupo carioca (GUG), coordenado pela professora húngara Ilona Peuker, que já havia participado deste evento em 1953 (BERNARDES, 2010). Assim, o objetivo deste trabalho é identificar qual foi o papel dos cursos lecionados por Ilona Peuker, para a difusão da então GG no Brasil, nas décadas de 1950 e 1960. O método utilizado foi o da história oral (THOMPSON, 1992), com a técnica de depoimento oral, e o critério principal de seleção dos participantes/narradores foi a vivência nestes cursos. A professora Geny Curcio, do estado do Espírito Santo, com 102 anos, foi uma participante fundamental, dado a dificuldade de encontrarmos outros com este perfil, nessa primeira fase da pesquisa. A partir do depoimento da mesma e dos documentos por ela fornecidos (com destaque para os certificados), foi possível constatar que os cursos de Ilona Peuker possuíam um grande enfoque na ginástica moderna, aliás, décadas depois, título de sua obra (PEUKER, 1974). Geny Curcio narra com detalhes os conteúdos dos cursos, com abordagens dos aspectos rítmicos, do manejo dos aparelhos (bola, maças, arco, corda e o tamborim) e de aspectos relacionados à composição coreográfica, típicos da modalidade em desenvolvimento no país, mais tarde denominada de ginástica rítmica desportiva (GRD). Os documentos apresentados pela professora vão ao encontro de sua narrativa, evidenciando que o foco dos cursos era a ginástica moderna e não a ginástica geral (GG). Geny Curcio não se lembrava de Ilona Peuker ter mencionado em seus cursos a GG (termo na época já utilizado pela FIG), e tão pouco, a WG, evento o qual foi precursora em participar em nível nacional (1953; 1957), já residindo no Brasil. Porém, destacou que a professora inovava ao usar alguns materiais não tradicionais da ginástica competitiva em suas coreografias com caráter demonstrativo e que foi no Espírito Santo que se inspirou para utilizar os “coquinhos” (cascas de coco) em suas coreografias, tão conhecidas em sua trajetória (inclusive internacionalmente). Assim, diferentemente de nossa hipótese inicial da pesquisa, os cursos lecionados por Ilona Peuker parecem pouco ter contribuído para a difusão da denominação da GG/GPT e do maior evento mundial de sua prática (WG). No entanto, os cursos lecionados por ela foram fundamentais para uma nova visão e prática de ginástica, com caráter mais demonstrativo e com o uso de materiais não tradicionais (oficiais) da área da ginástica, premissas estas que vão ao encontro da GG/GPT (PAOLIELLO, 2008).