Resumo
Introdução: Recentes estudos têm demonstrado a dificuldade de pacientes com doença de Parkinson (DP) em realizar tarefas sequenciais, como o caso da tarefa de levantar e andar (LEA). A dificuldade em realizar tarefas dessa natureza pode ser atribuída às restrições físicas dessa população, aos aspectos neurofisiológicos e clínicos da DP, ao contexto em que a tarefa é realizada e também à escolha de um padrão precavido adotado por esses pacientes. Os pacientes com DP apresentam comprometimentos na circuitaria motora, no processamento sensorial e na programação da ação. A LEA, como outra tarefa motora sequencial, exige programação e execução contínua em indivíduos neurologicamente saudáveis, portanto, espera-se que pacientes com DP apresentem soluções adequadas ao seu contexto, como por exemplo, separar a tarefa em duas distintas a fim de garantir a estabilidade e apresentar menor risco de cair, principalmente quando realizada sob restrição temporal. Dessa forma duas hipóteses foram elaboradas para este estudo: pacientes com DP separam a tarefa de LEA com demanda temporal em duas distintas e apresentam modificações nos parâmetros cinéticos e cinemáticos durante a LEA com demanda temporal em comparação com seus pares neurologicamente saudáveis; pacientes com DP caidores apresentam um comportamento ainda mais precavido quando comparados a seus pares não caidores. Objetivo: Avaliar o comportamento motor de indivíduos idosos saudáveis e idosos com DP caidores e não caidores na tarefa de LEA com demanda temporal, em dois diferentes estudos. Método: No estudo 1, participaram 28 indivíduos, formando intencionalmente dois grupos: grupo GDP, com 14 pacientes com DP idiopática e o grupo GC com 14 indivíduos neurologicamente sadios (grupo controle). No estudo 2, participaram 26 indivíduos, formando intencionalmente dois grupos: grupo GNC, com 13 pacientes com DP idiopática não caidores e o grupo GCA, com 13 participantes com DP idiopática caidores (considerados como tal se apresentassem uma queda nos últimos 12 meses). Para realizar a LEA com demanda temporal, os participantes permaneceram sentados em uma cadeira sem braços e sem encosto, com os pés descalços posicionados confortavelmente sobre duas plataformas de força. A altura do assento foi padronizada com 0,42m. Após ouvir ao toque sonoro de um telefone, os participantes deveriam atendê-lo com o intuito de não deixar a ligação “cair”. Com as mãos sobre os joelhos, os participantes levantaram imediatamente após o toque do telefone e iniciaram a marcha por uma passarela de 4 metros. Cada participante realizou 5 tentativas. O comportamento motor foi mensurado por meio de variáveis de desempenho (tempo de reação, tempo total da tarefa, tempo de cada uma das 4 fases da tarefa e índice de fluidez), variáveis cinemáticas (espaciais, espaço-temporais, amplitude e velocidade do centro de massa (CM), separação do centro de pressão e CM e momento linear), cinéticas (forças de reação do solo (FRS) e energia cinética do CM), variáveis clínicas e de medo de cair específicas, somente para o estudo 2. Estas variáveis foram comparadas entre os grupos em ambos os estudos, por meio de análises estatísticas apropriadas (p<0,05). Resultados: No estudo 1, os grupos apresentaram diferenças estatísticas significantes nas variáveis: tempo de realização da Fase 1 (p=0,045), Fase 4 (p=0,036) e tarefa total (p=0,004); índice de fluidez (p=0,038); duração (p=0,036), comprimento (p=0,014) e velocidade (p=0,003) do primeiro passo; amplitude médio-lateral do CM na Fase 2 (p=0,021); velocidade horizontal do CM nas fases 1 (p=0,001) e 3 (p=0,003), velocidade vertical nas fases 2 (p=0,04) e 3 (p=0,022); FRS médio-lateral nas fases 1 (p=0,019) e 3 (p=0,05); energia cinética do CM médio-lateral nas fases 2 (p<0,001) e 3 (p=0,008); momento linear horizontal nas fases 1 (p=0,046) e 3 (p=0,041). No estudo 2, vi não foi observada nenhuma diferença estatística significante entre os grupos. Conclusão: A hipótese do estudo 1 foi confirmada, porém a do estudo 2 não foi confirmada. Idosos saudáveis realizaram a tarefa de LEA com demanda temporal com maior fluidez quando comparados a pacientes com DP (caidores e não caidores). A sobreposição de movimentos representa um desafio ao controle postural dos pacientes e demonstra a fragilidade em executar movimentos sequenciais quando há exigência temporal. Talvez um episódio de queda e o nível de atividade física expliquem a similaridade do comportamento de pacientes caidores e não caidores na LEA com demanda temporal (Estudo 2). Com os achados obtidos nos dois estudos, pode-se concluir que a LEA com demanda temporal é uma forma de avaliação do controle motor que detecta modificações em populações com déficits no sequenciamento motor, como é o caso da DP e traz indícios sobre a fragilidade dessa população. A avaliação do comportamento motor de pacientes com DP caidores na LEA com demanda temporal necessita ser melhor investigada.