Resumo

A epilepsia é uma das doenças neurológicas mais prevalentes na população mundial. Aproximadamente 80% dessas pessoas vivem em países de baixa e média renda. A prática de atividade física ou exercício físico têm sido associada a melhores condições de saúde nessas pessoas. Dessa forma, o objetivo do presente estudo foi verificar os efeitos de um programa estruturado de exercício físico na saúde de pessoas com epilepsia. Para isso, foi realizado um ensaio clinico randomizado e os participantes foram divididos em grupo controle (10 sujeitos mantendo as atividades habituais) e exercício (11 participantes). O grupo exercício realizou 12 semanas de um programa estruturado, individualizado e supervisionado de exercício físico com duração de 60 minutos duas vezes por semana. Cada sessão incluía aquecimento (5 minutos de caminhada), exercício aeróbio (15-25 minutos com intensidade entre 14-17 na escala de Borg), de força (2-3 séries, 10-15 repetições) e 5 minutos de alongamento. Foram avaliados na linha de base e no período pós-intervenção características sociodemográficas, informações clinicas e de saúde (número e frequência de crises, qualidade de vida, efeitos colaterais, depressão, ansiedade, estresse e sono), parâmetros da função cognitiva global (Montreal Cognitive Assessment - MoCA), memoria (teste de digitos) e função executiva (teste de trilhas A & B, Stroop e fluência verbal) e medidas antropométricas (peso, altura, circunferência de cintura e quadril), de força (dinamômetro) e aptidão cardiorrespiratória (VO2max). Além disso, foi utilizado o grupo focal como técnica de coleta dos dados para um estudo qualitativo onde participaram oito sujeitos do grupo exercício. Apenas um participante do grupo exercício não completou o estudo. Houve redução na frequência de crises epilépticas no grupo exercício (p=0,010) sem diferença para o grupo controle (p=0,457). O grupo exercício comparado ao controle melhorou a qualidade de vida (p=0,004), os níveis de estresse (p=0,017), a função executiva (p=0,021) e a aptidão cardiorrespiratória (p=0,017). Ademais, os participantes do grupo exercício relataram aumento do conhecimento da doença, novas atitudes relacionadas ao seu tratamento e à promoção de uma vida saudável. O combate aos estigmas e a emancipação de restrições comumente associadas a epilepsia também se destacaram, a maneira que, identidade de grupo e o apoio profissional em Educação Física incrementaram a motivação para a prática de exercício. O programa estruturado de exercício físico foi capaz de reduzir a frequência das crises epilépticas e melhorar as condições gerais de saúde de pessoas com epilepsia. Ações de saúde pública como locais para realização de exercícios, acompanhamento profissional multidisciplinar (educador físico, nutricionista, psicólogo, entre outros) podem ser realizadas para reduzir o impacto da doença. O exercício físico é uma alternativa não farmacológica e de baixo custo que pode auxiliar no tratamento de pessoas com epilepsia.

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