Resumo
objetivo do presente estudo foi investigar o efeito do treinamento e competição na resposta de parâmetros hormonais, indicadores da função imune da mucosa oral, no comportamento e nos episódios de infecção do trato respiratório superior (ITRS) em jovens jogadores de futebol. Para tanto, foram desenvolvidos dois estudos. No primeiro estudo foram investigadas as respostas do cortisol salivar, da tolerância ao estresse e da severidade dos episódios de ITRS de jovens jogadores de futebol submetidos a um mesociclo pré-competitivo de quatro semanas, o qual foi dividido em um período de overload e um período de taper, que precedeu o campeonato nacional mais importante para a categoria. Onze jogadores de futebol do sexo masculino da categoria sub-17 forneceram amostras de saliva, em jejum, para posterior análise do cortisol salivar, e responderam os questionários Daily Analysis of Life Demands for Athletes (DALDA) e Wisconsin Upper Respiratory Symptom Survey-21 (WURSS-21) semanalmente, durante as quatro semanas. A percepção subjetiva de esforço da sessão (PSE da sessão) foi registrada após cada sessão de treinamento durante todo o período de investigação para análise da carga interna de treinamento (CIT). Os principais resultados do estudo foram: concentração significantemente maior de cortisol e dos valores de CIT na primeira semana do período de overload, quando comparados aos valores da terceira e quarta semanas e a correlação negativa e significante entre a tolerância ao estresse e a severidade de ITRS, sugerindo que uma queda da tolerância ao estresse pode causar um aumento do risco ou incidência de episódios de ITRS em jovens jogadores de futebol de campo. No segundo estudo foi avaliado o efeito da competição em marcadores da função imune da mucosa oral e na PSE da sessão em jovens jogadores de futebol. Para tanto, foram comparadas as respostas da imunoglobulina salivar A (SIgA) e da PSE da sessão em jogos oficiais e simulados. Foram analisados 26 jovens jogadores do sexo masculino, em duas partidas simuladas (S) e duas partidas oficiais (O). Os indivíduos forneceram amostras salivares antes do aquecimento (PRÉ) e logo após o término de cada uma das partidas (PÓS) para análise da concentração da SIgA (concentração absoluta SIgAabs e taxa de secreção de SIgA SIgAtaxa). A PSE da sessão foi respondida após a finalização das partidas. Observou-se redução da SIgAabs e da SIgAtaxa do momento PRÉ para o PÓS apenas para a condição O. Um maior valor de SIgAtaxa 6 foi observado no momento PRÉ na condição O quando comparado ao mesmo momento na condição S, demonstrando que o estresse psicológico vivenciado pelos atletas antes do início da partida oficial modulou a imunidade da mucosa oral desses jovens jogadores. É possível concluir que um delineamento que alterne duas semanas de overload com duas semanas de taper não representa uma carga excessiva para jovens jogadores de futebol e que participação em jogos oficiais é percebida como uma fonte de estresse de maior magnitude do que as sessões de treinamento específicas modulando, por sua vez, a resposta de marcadores da função da imunidade da mucosa oral