Resumo
A identificação de índices, tanto fisiológicos quanto neuromusculares, que possam ser utilizados na predição da performance, tem grande importância para a correta prescrição de cargas aplicadas durante o treinamento. Nesse sentido, o objetivo deste estudo foi analisar as relações dos índices neuromusculares (SJ, CMJ, CJ, IEE e sprint20m) e dos índices anaeróbios (MAOD, LACmax) e aeróbios (VO2max, IVO2max e Tlim) com a performance de corredores em provas de 200 e 400 m rasos. Métodos: Participaram deste estudo 13 velocistas (idade: 20,6 ± 3,4 anos; tempo de prática: 5 ± 2,6 anos), do sexo masculino. As avaliações foram realizadas em quatro dias: no primeiro dia realizaram-se os testes de campo: sprints de 20 m e uma simulação de prova para determinar a performance nos 200 (P200) e 400 m rasos (P400), sendo subseqüentemente coletado após as corridas amostras de sangue do lóbulo da orelha para determinação do pico de lactato (LACmax). No segundo dia realizou-se uma avaliação antropométrica e um protocolo de corrida incremental para a determinação do VO2max e da intensidade na qual o atleta alcança o VO2max (IVO2max). No terceiro dia os atletas realizaram os saltos verticais (SJ, CMJ, CJ) em uma plataforma de força, sendo determinada a altura de salto. Após intervalo recuperativo, realizou-se um teste para determinação do Tlim na IVO2max. O último dia de avaliações foi destinado para a realização do teste supra-máximo (120% do VO2max) e das corridas submáximas, relativos ao protocolo para determinação do MAOD. Utilizou-se estatística descritiva para apresentação das variáveis. Para determinar a correlação entre os índices e a performance nas corridas, aplicou-se a correlação linear de Pearson (nível se significância de 5%) e, a fim de verificar a contribuição das variáveis independentes (índices) nas variáveis dependentes (P200 e P400m), realizou-se uma análise de regressão múltipla. Resultados: Observou-se correlações significativas das variáveis neuromusculares SJ (r = -0,68), CMJ (r = -0,76), CJ (r = -0,64) e sprints20m (r= -0,70) apenas com a P200, já o IEE não se relacionou com nenhuma distância de prova. Quanto às variáveis anaeróbias, o MAOD correlacionou-se com a P200 (r = -0,56), enquanto que o LACmax apresentou correlação apenas com a P400 (r = -0,55). Nenhuma das variáveis aeróbias (VO2max, IVO2max e Tlim) correlacionou-se significativamente com a performance nas corridas. A análise de regressão múltipla revelou que os índices CMJ, MAOD e sprints explicaram 76% da variação da P200 m. Em relação aos 400 m, três índices também foram selecionados, o LACmax, VO2max e CMJ, para explicar 74% da performance nesta prova. Conclusões: As relações entre os índices neuromusculares e P200 indicam que quanto maior os níveis de potência muscular, melhor será a performance do atleta nesta prova. O melhor desempenho nos 200 m também está relacionado com os níveis de capacidade anaeróbia e, nos 400 m, correlacionado com a capacidade glicolítica dos atletas. Ficou evidenciado que os velocistas com melhor performance nas corridas não são aqueles que possuem melhores níveis de aptidão aeróbia. Concluí-se que fatores relacionados à capacidade anaeróbia e principalmente à potência muscular, explicam a P200, enquanto que fatores relacionados à capacidade glicolítica, consumo máximo de oxigênio e potência muscular explicam a P400.