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UMA HISTÓRIA DE AULAS EXCLUDENTES EM EDUCAÇÃO FÍSICA

As aulas de Educação Física, durante muito tempo funcionaram nas escolas sob um perfil tecnista, ou seja, um perfil onde a valorização da técnica estava sempre presente (KUNZ:1994). Tal disciplina escolar não estava diretamente voltada a prática pedagógica que atenderia as necessidades do aluno no cenário escolar assim como as demais disciplinas, no entanto tinham intenções diversas voltadas para interesses. Coletivo de Autores (1992:52) nos relata que as aulas de Educação Física fora um importante instrumento de aprimoramento físico dos indivíduos que, "fortalecidos" pelo exercício físico, que em si gera saúde, estariam mais aptos para contribuir com a grandeza da indústria nascente, dos exércitos, assim como com a prosperidade da pátria.

Outro fato importante nas aulas de Educação Física foi a valorização do esporte, ou melhor, traduzir as aulas de Educação Física Escolar em esporte o que era uma concepção de ensino quase desumana. Desenvolver o esporte de auto-rendimento de forma precoce com alunos em séries iniciais, pelo professor de turma, ou seja as "tias", que eram obrigadas mesmo desconhecendo as necessidades psicomotoras fundamentais às crianças nesta fase de desenvolvimento (6 a 10 anos), proporcionar aulas de Educação Física. Como resultado, observamos, então, a cultura do "rola bola" uma bola para os meninos jogarem "futebol" e outra para as meninas jogarem "queimada".

As aulas de Educação Física nas escolas, desenvolviam nos indivíduos aptidões físicas e morais que atenderiam interesses diversos, menos de valorização do processo ensino-aprendizagem, onde a maioria dos alunos estivessem incluídos dentro destas aulas. Então podemos concluir com esta trajetória histórica, que as aulas de Educação Física eram extremamente excludentes, ficando grande parte dos alunos excluídos deste momento de aprendizagem.

ENTENDENDO OS JOGOS COOPERATIVOS

"Em toda e qualquer experiência humana, há sempre mais que um jeito de vivê-la. A idéia por trás dos Jogos Cooperativos é estimular o despertar desta visão de múltiplas possibilidades e aperfeiçoar o exercício da escolha pessoal, com responsabilidade grupal.

(Brotto:1999)

Quando nos preocupamos em analisar a palavra JOGO, observamos que vários podem ser o seu significado. Jogo pode ser desde simples ações como jogar o brinquedo no chão e isso ser engraçado, se repetido por várias vezes por um bebê, que para Piaget não tem outra finalidade que não o próprio prazer do funcionamento (FREIRE:1997, p.116), passando por brincadeiras simbólicas que as crianças fazem com os seus faz-de-conta até o jogo de regras, de forma mais estruturada, onde as normas por sua maioria são estabelecidas pelo próprio grupo que as cria, que segundo Piaget, citado por Freire (1997:117), a regra é uma regularidade imposta pelo grupo, e de tal sorte que a sua violação representa uma falta. Para Brougère (1995:14) a palavra jogo pode ser entendida como o que o vocabulário científico denomina "atividade lúdica" , quer essa denominação diga respeito a um reconhecimento objetivo por observação externa ou ao sentimento pessoal que cada um pode ter, em certas circunstâncias, de participar de um jogo. Então entendemos que simplesmente jogar, pode ser até um auxílio pedagógico e um facilitador do processo ensino-aprendizagem, em ambiente escolar. Tal processo torna-se relevante ao considerarmos que a maioria das pessoas passam por este caminho. Resta saber como lidar com o jogo para construção do conhecimento dentro do processo de inclusão. Para isso faz-se importante entender a proposta de Jogos cooperativos.

A abordagem conceitual de Jogos Cooperativos, nos remete saber que este tem sua origem observada na cultura ocidental, em função de uma preocupação com a excessiva valorização dada ao individualismo e à competição exacerbada, da sociedade moderna.

"(...) nós não ensinamos nossas crianças a terem prazer em buscar o conhecimento, nós as ensinamos a se esforçarem para conseguir notas altas. Da mesma forma, não as ensinamos a gostar dos esportes, nós as ensinamos a vencer jogos." Terry Orlick (1989), citado por BROTTO (2001)

Os jogos cooperativos datam de muito tempo e têm acompanhado a História, na mesma proporção. Segundo Terry Orlick (1989), começou a milhares de anos, quando membros das comunidades tribais se uniam para celebrar a vida.

No entanto como delimitação e base do estudo de BROTTO (2001), data a partir de experiências e publicações da década de 50, para o mundo ocidental e em particular, no Brasil.

Os jogos cooperativos são exercícios para compartilhar, unir pessoas, despertar a coragem para assumir riscos, tendo pouca preocupação com o fracasso e o sucesso em si mesmos, mas sim uma fonte de prazer. Promovem o encontro onde reforçam a confiança pessoal e interpessoal uma vez que ganhar e perder já não são tão essenciais; são apenas referências para um contínuo aperfeiçoamento de todos, vislumbrando ao final deste caminho um verdadeiro exercício educativo para a paz.

Os jogos cooperativos são jogos com estrutura onde os participantes jogam uns com os outros e não contra. A competição e a cooperação são parte de um todo. O importante é a forma de abordagem. Um jogo pode ser predominantemente competitivo, num momento e em outro cooperativo. O mais importante é o esclarecimento de ambos e não a oposição. É bom que nos tornemos capazes de não separar para excluir e sim descobrir e despertar competências pessoais coletivas que colaborem para nos reLigar uns aos outros e vivermos em comum-Unidade (BROTTO:2001).

UMA ANÁLISE SOBRE JOGOS COMPETITIVOS

Na sociedade competitiva, a hipervalorização da competição se manifesta nos jogos através da ênfase no resultado numérico e na vitória, ou seja vencer parece ser o mais importante; melhor dizendo o resultado VITÓRIA é algo sempre esperado. Sendo assim as pessoas estão submissas a obedecer ao jogo. Segundo Kogan, citado por Brotto (2001) os jogos tornaram-se um espaço de tensão e ilusão, dentro de uma sociedade competitiva. Então, resgatar, recriar e difundir os jogos cooperativos é um exercício de potencialização de valores e atitudes, capaz de favorecer o desenvolvimento de uma sociedade humana, transformando uma sociedade altamente competente - que é diferente de competitiva, segundo Orlik (1989), citado por Broto.

Durante as aulas de EF (Educação Física) o espírito competitivo é muito perceptivo nos alunos. Para eles a EF é jogar futebol, só que numa perspectiva extremamente competitiva, indo de encontro com o que Brotto fala (2001:25):

"O senso comum costuma associar competição com o jogo, como se estes fossem sinônimos (...)"

O estudo nos levou a entender que é através das aulas de Educação Física que dispomos do momento ideal para oferecer vivências relacionadas com os jogos cooperativos, pois na escola o enfoque pedagógico, nos permite uma brecha para isso. É também neste momento que o aluno está desenvolvendo a construção do seu conhecimento voltado para a cultura corporal de movimento. Então se torna viável nas aulas de EF, abordagens cooperativas. No tocante à competição, acreditamos que esta é importante sim, desde o momento que os professores deixem claro que a competição é com e não contra. O professor adotando esta conduta estará colaborando para que cada Ser escolha a melhor forma de se posicionar diante das atitudes que precisará tomar ao longo de sua vida.

A PEDAGOGIA DO ESPORTE EM JOGOS DE COOPERAÇÃO: UMA QUESTÃO DE INCLUSÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR.

Quando disponibilizamos para os nossos alunos um aprendizado imbuído em princípios educativos onde os valores estejam voltados para o espírito de colaboração de se importar com o outro, ou seja quando levamos para nossas aulas atividades que todos possam participar sem medo de errar ou "pagar mico" estamos construindo, neste momento, uma dinâmica de ensino onde a exclusão fique cada vez mais, diminuída. Atividades em que uma turma heterogênea como são as turmas nas escolas, necessitam de caminhos como estes. Um momento oportuno para isso, são as próprias aulas de Educação Física ou até Treino Desportivo.

Trabalhar o esporte nas escolas é possível e deve fazer parte das categorias de conteúdos abordadas na Educação Física. Ensinar esporte a todos, esporte bem a todos, mais que esporte a todos e ensinar a gostar do esporte (FREIRE:1998), se faz necessário. Um aprendizado esportivo através de profissionais de Ed. Física capacitados para desenvolver um trabalho didático-pedagógico do esporte (Elenor Kunz) é muito importante para uma abordagem de inclusão, nas escolas. Vários são os autores que tratam deste assunto. Acho que o que precisamos mesmos é que os profissionais da área façam uma reciclagem nas suas condutas como professores/educadores e ajudem nesta transformação social. Segundo Kunz, quando organizamos o grupo a ser trabalhado, com um planejamento voltado para disponibilizar um trabalho didático esportivo, o aprendizado de valores como cooperação, solidariedade e auteridade estão intrínsecos dentro do processo. É necessária uma organização de jogos por categorias e na aplicabilidade do treino, que segundo Kunz pode ser feito com educativos; os treinos dentro de uma visão pedagógico-esportiva podem ter este perfil; a formação de grupos pode ser através de atividades lúdicas, para não contemplar as panelinhas, podendo mudar sempre; para isso usa-se um rodízio de pessoas a cada educativo. A premiação poderá ligar-se ao fato do grupo adquirir uma melhor maturidade como resultado e assim desenvolver um melhor trabalho, neste caso considerando que num grupo todos são importantes e numa equipe um depende do trabalho do outro, ou seja o trabalho de todos se somatiza, por isso todos precisam cooperar. No final o aprendizado da competição será: COMPETIMOS COM E NÃO CONTRA!

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O nosso estudo não teve a intenção de fazer dos Jogos Cooperativos uma tábua de salvação para as exclusões que acontecem nas aulas de Educação Física nas escolas. Teve sim a intenção de mostrar e fundamentar que as possibilidades de uma aula inovadora e com possibilidades de adesão por parte de todos os alunos é muito mais interessante. Neste caso os professores têm a oportunidade em suas mãos, ou seja o momento-aula. Mas cabe a eles decidirem como vão agir para contribuição de cidadãos mais autônomos e reflexivos para nossa sociedade. Precisamos educar visando a diversidade, só assim a inclusão social poderá ser feita.

Acho que as palavras de Brotto (2001:65) são bem apropriadas para encerrarmos este nosso estudo, quando o mesmo sustenta que praticar os jogos cooperativos como uma proposta pedagógica é, antes de tudo, exercitar a cooperação na própria vida. É re-aprender a lidar com os desafios cotidianos com base, não em um novo paradigma, que poderá levar a um novo esgotamento, mas sim, na consciência da cooperação como um movimento de síntese interior e exterior, se mantendo em constante re-novação e nos incentivando a abrir os olhos e enxergar com o coração, descobrindo caminhos para a realização das nossas mais profundas aspirações, respeitando a vida e o próximo, antes de mais nada. Praticando a vivência de um mundo melhor e cheio de Paz, quem sabe?!

Obs. Os autores, acadêmicos Bernardete Paula Carvalho Lima Amaral (helioeberna@uol.com.br), Icleia Batista Neder (cleoecris@uol.com.br) e Manuel Tavares da Rocha (manueltavares @ig.com.br) foram orientados pela professora Mônica Miguel (monica.miguel@click21.com.br) , todos da UNIABEU

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • Brotto, Fábio Otuzi. Jogos Cooperativos: o jogo e o esporte como um exercício de convivência. Santos/SP. 2ª ed. Projeto Cooperação, 2002.
  • Brotto, Fabio Otuzi. Jogos Cooperativos: se o importante é competir o fundamental é cooperar. São Paulo. Cepeusp, 1999.
  • Brougére, Gilles. Jogo e Educação. Porto Alegre. Artmed, 2003
  • Coletivo de autores. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo. Cortez, 1992.
  • Freire, João Batista. Educação de Corpo Inteiro: teoria e prática da Educação Física. São Paulo. Scipione, 1997
  • Freire, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 35ª Ed.: Rio de Janeiro, Paz e Terra. 2003.