Lazer, Cidade e Antropologia: o Sesc no Interior Paulista
Por Julio Cesar Talhari (Autor), Mariana Luiza Fiocco Machini (Autor).
Resumo
O presente trabalho é um eixo de uma pesquisa mais ampla intitulada “Cultura e lazer: práticas físico-esportivas dos frequentadores do Sesc em São Paulo”, desenvolvida pelo Laboratório do Núcleo de Antropologia Urbana da Universidade de São Paulo (LabNAU) em parceria com o Centro de Pesquisa e Formação do Sesc (CPF) e o Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (Cedec). Tem por base a segunda fase desse estudo (2017), que se concentrou em cinco unidades do Sesc no interior de São Paulo: Sorocaba, São José do Rio Preto, Taubaté, Presidente Prudente e Campinas. O escopo geral era compreender as motivações dos frequentadores do Sesc, suas práticas e formas de apropriação dos espaços, atividades e até mesmo conceitos. Esse eixo de pesquisa levou em consideração o espaço urbano em que as unidades estavam inseridas e as práticas de lazer locais. O fato de as unidades serem únicas em cada uma dessas cidades gerou a hipótese de que configurariam identidades bem específicas enquanto espaço de lazer. Assim, compreender a atuação desse equipamento múltiplo em uma cidade de interior exigiria a captação da lógica local. Também foi considerado que o Sesc no interior teria importância e atuação singulares, o que gerou uma necessidade de perceber suas relações políticas e a forma pela qual se relaciona com outros equipamentos de lazer, bem como entender suas relações com sindicatos e prefeituras. A pesquisa foi realizada no formato de expedição etnográfica: uma abordagem do tipo etnográfica em que um conjunto de pesquisadores vai a campo compartilhando olhares e relatos, em um período curto de tempo (no caso, uma semana para cada unidade), imersos na dinâmica do ambiente urbano para observar e registrar o objeto de seu estudo. Um dos pressupostos teóricos foi a ideia da cidade em processo, isto é, a cidade vista como algo em construção pelos citadinos e não como dada aprioristicamente. De modo análogo, enfocou-se o poder criativo das práticas dos frequentadores, tanto em atividades dentro das unidades como em suas circulações pela cidade, criando circuitos de lazer próprios e apropriando-se dos espaços. Conseguiu-se captar dimensões importantes da relação das unidades do Sesc do interior pesquisadas com o espaço urbano. Primeiramente, a forma de inserção do Sesc em cada cidade obedece a interesses locais e gera, em maior ou menor grau, consequências nas cidades. Se por um lado a instalação de uma unidade do Sesc pode ter influência em processos de expansão urbana locais, por outro, enfrenta e tem de adaptar-se a dinâmicas próprias de segregação socioespacial e de relações sociais. O estudo também indicou como o Sesc no interior de São Paulo tem de se colocar em movimento, seja por meio de atividades que extrapolam as unidades, seja mediante articulações políticas e institucionais. Além disso, enquanto o Sesc colabora para o fomento de cenas culturais locais, também é integrado pelos frequentadores em circuitos de lazer mais amplos e autônomos