Lazer e Fatores Protetivos Ao Uso Excessivo de Substâncias Psicoativas

Considerando que as escolhas do lazer refletem comportamentos socialmente aprendidos, este estudo objetivou conhecer e classificar os fatores protetivos ao uso de drogas e suas possíveis relações com o lazer, visando qualificar políticas de prevenção. O uso de substâncias psicoativas se encaixa no contexto atual em função da capacidade de proporcionar novas sensações, alterar percepções e aumentar a sociabilidade, tornando seu consumo uma espécie de atalho ou fórmula para um “bem-estar” momentâneo. Esses são alguns dos aspectos da contemporaneidade que fazem com que atividades de lazer, principalmente atreladas ao consumo, ganhem mais importância, em especial destaca-se o consumo de substâncias psicoativas (SPA’s) pelo público jovem, que ocorrem majoritariamente durante o lazer noturno. Nesse cenário, investigar possíveis fatores de proteção ao consumo excessivo de psicoativos é uma importante ferramenta para qualificação de políticas voltadas para a prevenção. Em resposta ao crescente aumento no número de usuários de drogas ao redor do mundo, várias pesquisas foram realizadas nos últimos anos, entretanto, grande parte dessas pesquisas aborda o tema apenas pela ótica dos fatores de risco, ou seja, foca suas observações e análises nas razões que levam um indivíduo a desenvolver um padrão de consumo excessivo de psicoativos, deixando assim de lado os possíveis motivos para o não uso. Este trabalho busca justamente elencar fatores classificados como de proteção que podem contribuir para o não uso excessivo de SPA’s e que seriam importantes para a prevenção. Trata-se de uma pesquisa quantitativa em que a coleta de dados foi feita por meio de um survey online aplicado a alunos dos cursos de Bacharelado e Licenciatura em Educação Física da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). O questionário buscou levantar dados sobre a forma de ocupação do tempo livre da amostra, participação em atividades extraescolares e padrões de consumo de SPA’s. A hipótese levantada é que a ocupação do tempo de lazer de adolescentes com atividades extraescolares estruturadas contribui para que não seja desenvolvido um padrão de uso compulsivo de SPA’s durante o decorrer da vida. Após a coleta dos dados, 110 questionários foram validados por terem sido completamente preenchidos. A atividade extraescolar orientada mais realizada durante a adolescência foi o esporte, sendo relatado por 76,85% da amostra e permanecendo como principal opção de lazer até a fase adulta para 59,26%. Quanto ao consumo de psicoativos, as bebidas alcoólicas são as que representam maior porcentagem de consumo do grupo, com 61,11%. As primeiras análises indicam que participar apenas de atividades esportivas não confere proteção ao consumo de álcool e outras drogas. Estudos do lazer podem oferecer contribuições ao estabelecer o diálogo com a prevenção ao uso excessivo de drogas e a necessidade de aprendizagem via atividades extracurriculares. Diante desta premissa, espera-se que o trabalho possa subsidiar políticas de prevenção a partir dos resultados, visando à qualificação dos projetos e grupos de intervenção.