Lazer e Humanização: Uma Experiência com Refugiados na Dinamarca
Por Adeline Borini Gargioni (Autor), Denise Aparecida Corrêa (Autor).
Resumo
O presente artigo relata a experiência advinda do projeto “Semana com Refugiados”, como parte do programa de intercâmbio na Gymnastikhøjskolen i Ollerup, na Dinamarca, promovido pelo Serviço Social do Comércio (SESC/São Paulo) em parceria com a International Sport and Culture Association (ISCA). O referido projeto foi organizado e executado por 40 estudantes internacionais da Gymnastikhøjskolen, cujo foco foi proporcionar atividade física aos refugiados advindos de países como Afeganistão, Irã, Iraque, Síria e que estão abrigados em dois Asilos na Dinamarca, um na cidade de Ollerup, que atende exclusivamente homens a partir 14 anos, e outro em Nyborg, que atende famílias: homens, mulheres, crianças e idosos. O objetivo do presente relato é descrever e refletir acerca das vivências lúdicas compartilhadas com os refugiados do Asilo de Nyborg, na perspectiva da educação pelo lazer. Para tal foram realizados registros dos acontecimentos no formato de diários de campo, dos quais foram destacados aspectos significativos agrupados em dois momentos: planejamento e desenvolvimento das ações. No tocante ao primeiro, destacamos o desafio de planejar ações para uma comunidade cujo objetivo primário é estabilizar traumas, uma vez que alguns refugiados chegam sozinhos, a pé, cheios de tensão muscular, desnutridos e com o emocional em estado de alerta constante, dado que atividades rotineiras, como sair à rua para o trabalho ou para a escola, são uma tensão constante, além de outras manifestações, consequência de estresses pós-traumáticos, de vestígios de guerra e/ou da viagem de fuga. Diante desse cenário, o trabalho pautado em vivências lúdicas, de expressão corporal, danças e jogos de confiança, visou possibilitar integração comunitária, estabelecer e/ou fortalecer os vínculos de confiança entre os próprios refugiados e entre eles e a equipe. Decisão acertada, pois obtivemos aproximadamente 200 participantes divididos entre os dois dias, totalizando 12 horas de atividades. Quanto ao desenvolvimento das ações, percebemos a relevância das vivências lúdicas, não apenas para as crianças, que se entregavam com mais espontaneidade à experiência, mas especialmente para os adultos, os quais foram aderindo gradativamente às atividades, criando laços que se estendiam para além da vivência em si, como observado em uma situação em que uma família convidou um estudante para conhecer sua casa e lanchar com sua família. Outro momento de congraçamento foi observado na vivência da dança circular, cuja roda composta por crianças, adolescentes, homens e mulheres, juntos de mãos dadas, marcou o fechamento das vivências, pois a separação em grupos por faixa etária e de gênero é uma constante. No tocante a este último aspecto, observamos a segregação marcada pelas diferenças culturais de gênero, manifestada pelas crianças que se mostraram resistentes em brincarem juntos, meninos e meninas. Assim como pelas mulheres adultas, cuja participação em uma vivência de dança foi realizada em uma sala fechada, e ao se certificarem não estarem sendo observadas, se permitiram tirar o hijab. A partir destas reflexões, lançamos aspectos significativos da experiência educativa com pessoas na condição de refugiados, cujo potencial das vivências lúdicas em ações comunitárias se tornam condição para a educação pelo lazer na perspectiva da humanização.