Resumo

O intenso processo de urbanização levou a um crescimento acelerado das cidades e à explosão de problemas estruturais e sociais que interferem diretamente nas condições de vida dos habitantes urbanos, inclusive no acesso ao lazer. Embora reconhecido como um direito social por diversos documentos jurídicos, o efetivo exercício do lazer de forma democrática ainda encontra-se distante de se realizar em consonância com as políticas urbanas. Se fosse incorporado de fato ao planejamento urbano, o lazer poderia contribuir para um maior desenvolvimento social e bem-estar dos seus habitantes, fazendo-se presente na formulação e efetivação de políticas públicas voltadas à sua democratização, sobretudo na relação com os espaços e equipamentos públicos para sua vivência. Tal visão aproxima a discussão do lazer à qualidade de vida, expressão recorrente nos debates sobre o presente e o futuro das cidades em todo o mundo, e que tem se fortalecido pela crescente sistematização de indicadores de qualidade de vida urbana articulada por redes de cidades e experiências locais. A busca pela mensuração da qualidade de vida urbana contempla áreas essenciais à compreensão das reais condições de vida de uma população por diferentes órgãos do Estado e movimentos da sociedade civil, vinculadas não só a aspectos econômicos, mas também aqueles ligados ao meio ambiente, serviços urbanos, habitação, mobilidade e transporte, educação, participação política, segurança, saúde, lazer, entre outros. Compreender como se tem dado essa configuração no campo do lazer pode contribuir para ampliar seu debate no meio urbano, evidenciando suas potencialidades para superar algumas das dificuldades cotidianas de sua democratização. Embora em diversos meios e discussões seja recorrente uma associação entre o lazer e a qualidade de vida, o aprofundamento teórico e, principalmente, empírico dessa relação ainda é escasso, sendo o presente trabalho uma tentativa de demonstrar a importância da aplicação desses indicadores para sua melhor compreensão. A partir de um estudo exploratório, de caráter bibliográfico e documental, busca-se articular o lazer como um campo temático presente em alguns sistemas de indicadores de qualidade de vida urbana, evidenciando como essa relação tem sido construída e a partir de quais indicadores, apontando possíveis contribuições para estudos futuros. Dentre os resultados, evidencia-se que esses sistemas de qualidade de vida urbana resultam em conjuntos prioritariamente objetivos de indicadores (embora mais recentemente indicadores subjetivos com base em levantamento de impressões e percepções da população também têm sido construídos) e muitos são operacionalizados a partir de dados georreferenciados no espaço intraurbano. Tais indicadores relacionam-se tanto com a dimensão cultural como com a dimensão esportiva/recreacional do lazer e, em sua maioria, são construídos com base no levantamento do número e da distribuição dos equipamentos públicos disponíveis nas diferentes regiões das cidades. O compartilhamento de experiências entre esses sistemas de qualidade de vida urbana é importante para o aprimoramento de indicadores, sobretudo na área do lazer, contribuindo para sua legitimação no debate em torno da qualidade de vida nas cidades e de suas potencialidades no direcionamento de ações efetivas de planejamento e de políticas públicas para esse campo.

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