Lesões no Recinto Escolar em Adolescentes do Norte de Portugal
Por Carla Alves (Autor), Maria João Azevedo (Autor), Fréderic Ramalho (Autor), Filipe Guimarães (Autor), Ana Castro (Autor).
Em Revista Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia v. 21, n 3, 2013. Da página 333 a 339
Resumo
Introdução: O potencial de lesões em desportos organizados e nas aulas de educação física (EF) é elevado e constitui, a par com as lesões nos intervalos letivos, um dos principais motivos de afluência à urgência de Ortopedia.
Objetivos: Caracterizar as lesões no recinto escolar comparando as aulas de EF e os intervalos letivos, em adolescentes de escolas portuguesas, entre o 7º e o 12º ano de escolaridade e comparar com outros estudos internacionais.
Material e métodos: Foi desenhado e realizado um questionário de resposta fechada a 623 alunos de quatro escolas do norte de Portugal, no ano letivo 2010/2011. Foram inquiridos relativamente aos 12 meses transatos aspetos demográficos, identificadas e caracterizadas as lesões do aparelho locomotor, quer nas aulas de EF, quer nos períodos de intervalo. A análise estatística foi efetuada no programa SPSS® versão 17.0, utilizando como significância estatística p<0,05.
Resultados: Dos 623 alunos inquiridos, 227 frequentavam o ensino básico e 396 o secundário. A média de idade era 15,1 anos (desvio padrão 1,838; mínimo 11; máximo 19), correspondendo a 57,5%
raparigas. Verificou-se uma maior incidência de lesões nas aulas de EF (18,8%) comparativamente aos intervalos (7,7%), sendo a diferença estatisticamente significativa. As raparigas foram mais afetadas nas aulas de EF, enquanto nos intervalos foram os rapazes, embora, sem significância estatística. Os membros inferiores constituíram a localização mais frequente. O tornozelo foi a região mais atingida durante as aulas de EF e o joelho nos intervalos. Os tipos de lesão mais prevalentes no decorrer das aulas foram: contusão (46,6%), entorse (37,3%), luxação (9,3) e nos intervalos foram: contusão (45,8%), entorse (27,0%), laceração (18,8).
Durante as aulas, as lesões ocorreram predominantemente a meio da aula e durante a prática de ginástica, futebol e basquetebol, enquanto nos intervalos ocorreram com a prática de futebol e corrida. Os alunos consideraram como principais causas de lesão durante as aulas o contacto físico, as condições do espaço e a falta de habilidade para o desporto. Mais de 50% das lesões necessitaram de tratamento, sobretudo a nível hospitalar, mas com uma pequena percentagem de absentismo (21,4% das lesões nas aulas de EF e 28,9% nos intervalos das aulas).
Conclusões: Neste estudo obteve-se uma maior incidência de lesões nas aulas de EF do que nos intervalos, com predomínio das lesões nos membros inferiores e prevalência de contusões e entorses, o que se encontra em consonância com outras séries publicadas. As principais causas apontadas durante as aulas foram o contacto físico, as más condições do espaço e a falta de habilidade para o desporto, o que pressupõe que muitas destas causas são potencialmente evitáveis, nomeadamente no que respeita ao ensino de regras básicas de segurança, ao aumento da vigilância, à melhoria das condições dos recintos desportivos escolares e à adaptação dos exercícios às características corporais e apetência desportiva de cada aluno.