Resumo

Com o avançar do processo de reestruturação produtiva e das políticas neoliberais, a lógica gerencialista ganha espaço e é tratada como panaceia para diversos problemas econômicos e sociais. A sociedade gerencial nada mais é, segundo Gaulejac (2007), do que um sistema que garante a centralidade das dimensões social, econômica e cultural determinadas pela empresa. Nascida no setor privado, a lógica gerencialista tende a se espalhar no setor público e extrapolar as barreiras do trabalho para abranger todas as esferas de relações humanas. Assim, os princípios da eficácia, da performance e da concorrência – sistematizados no conceito de “gestionarização” – passam a ser estruturantes para as relações sociais, levando os sujeitos a “gerenciarem” sua educação, a saúde, o lazer como se tratasse de um investimento, ou mesmo um capital a ser otimizado (METZGER; MAUGERI; BENEDETTO-MEYER, 2012). A administração gerencialista, ancorada na racionalidade econômica, também se faz presente no campo educacional. Essa perspectiva, que se orienta na noção da educação como serviço e não como direito, desencadeou um processo de intensificação e precarização do trabalho docente no estado de São Paulo (VENCO e RIGOLON 2014). Desse modo, esta pesquisa teve por objetivo investigar a influência da lógica gerencialista no tempo de não trabalho e no lazer dos trabalhadores docentes da rede estadual paulista. Trata-se de uma pesquisa qualitativa que, além da análise de documentos que versam sobre a gestão escolar no estado de São Paulo, utilizou de entrevistas semiestruturadas, com 29 trabalhadores docentes, condicionadas à aplicação da técnica de pesquisa sobre os usos do tempo. Esta análise baseia-se na descrição das atividades desenvolvidas por uma população durante determinado período de tempo (AGUIAR, 2011; BRUSCHINI, 2006). Nesta pesquisa, os diários abarcaram uma semana típica de trabalho dos professores em questão, mais o final de semana anterior ou subsequente. As políticas gerencialistas para a educação no Estado de São Paulo se expressam por diferentes matizes. Entre as que influenciam diretamente os professores vale pontuar as seguintes: os cursos oferecidos para as equipes gestoras, as distintas formas de contratação docente, o Índice de Cumprimento de Metas (ICM), o Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (SARESP) e Política da Bonificação de Resultados (BR). Neste cenário, foi possível identificar que os professores investigados vivenciam tensões para “gerenciarem” suas vidas, tendo em visa as adequações impostas à carreira docente. Na perspectiva apontada por Gaulejac (2007), onde as técnicas de gestão apresentam a especificidade de conseguir fazer com que os assalariados aceitem as exigências de seu trabalho, vale destacar a tomada do tempo livre e do que seria o tempo e espaço destinado ao lazer por atividades ligadas ao trabalho, sobretudo as atividades vinculadas ao SARESP. Também vale salientar que parte importante das práticas de lazer entre os professores estão relacionadas à tecnologia. Todavia, além da dificuldade de se delimitar com acuidade essas atividades – principalmente em equipamentos conectados à internet –, foi possível observar que tempos e espaços considerados de lazer, sob reforço da lógica gerencialista, são cada vez mais ocupados pelo trabalho

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