Resumo

A pesquisa teve como objeto de investigação memórias de 10 professores/as de Educação Física com formação inicial e experiência docente em Belo Horizonte, entre 1950 à 1970. O propósito foi explorar indícios de formação familiar, social e profissional, contemplando vivências de infância, juventude, graduação e atuação docente, em uma temporalidade marcada por circunstâncias políticas, sociais e culturais peculiares . O movimento de ouvir esses protagonistas que, em suas experiências, pensaram, organizaram e implementaram ações e práticas pedagógicas, envolvidos em representações de Educação Física e de esporte, foi imprescindível para problematizar em que medida as circunstâncias influenciaram (ou não), suas intervenções pedagógicas. Tentou-se compreender, com as memórias destes/as professores/as, uma ambiência social e cultural, as condições materiais e políticas que cercaram especialmente a formação inicial e a atuação profissional em Educação Física. Para tanto, foram mobilizados procedimentos teórico-metodológicos indicados por estudiosos de História Oral, tanto para a eleição da colônia de entrevistados como para a realização das entrevistas, além do respeito aos protocolos legais e éticos exigidos. Outros documentos também foram examinados, tais como:legislação do ensino, material didático dos professores, livros, apostilas, produções do Ministério da Educação, dentre outros. Neste conjunto documental interessou também perceber a circulação de modelos didáticos de intervenção em Educação Física, com os quais tiveram contato. Foi possível compreender a existência de um entrelaçamento entre histórias de vida de docentes, as iniciativas oficiais para a área e a ambiência social e cultural daquela temporalidade. As reminiscências destes/as professores/as permitiram pensar, por exemplo, que um movimento de esportivização do social, tanto na capital mineira, onde atuaram, como em suas cidades de origem (Lavras, Moeda, São João Del Rey e Caratinga), encontrava-se em pleno desenvolvimento nas décadas de 1940 e 1950, e nas seguintes. Mas que tal enraizamento do esporte nas práticas sociais dava-se de modos diversos e peculiares. A formação profissional em Educação Física que realizaram em Belo Horizonte nas décadas de 1950 e 1960, aparece em seus relatos como precária, empírica, generificada e militarizada. Eles permitem especular ainda que o currículo daquele que era então, o único curso de formação existente (e o primeiro de Minas Gerais), foi também marcado não por uma esportivização, mas por variadas esportivizações na aparência do igual, a presença do diverso. As rememorações sobre suas ações docentes evidenciaram vestígios de práticas pedagógicas que reforçavam uma dada tradição profissional da área de hierarquia, de práticas sexistas, de crescente predominância de conteúdos relacionados aos esportes. Em menor escala aparecem iniciativas de incentivo ao encontro entre meninos e meninas nas aulas, a luta por direitos de igualdade, a pluralidade de conteúdos e tentativas de aproximação da comunidade local. As memórias que aqui foram trazidas exigem pensar que as experiências humanas, tão singulares e únicas, tornam impossíveis generalizações e esquematizações simplistas.

Acessar Arquivo