Memórias Esportivas: o Voleibol Feminino Gaúcho nos Anos 50 e 60
Por Karine Dalsin (Autor), Silvana Vilodre Goellner (Autor).
Em IX Congresso Brasileiro de História do Esporte, Lazer e Educação Física CHELEF
Resumo
Na sociedade atual os esportes têm sido uma prática de grande visibilidade, as competições esportivas movimentam grandes cifras, os/as atletas ocupam lugar de destaque no âmbito social e figuram nas páginas dos jornais e revistas exibindo medalhas e proferindo conselhos, lições de perseverança e dedicação ao esporte. Inúmeras vezes os/as medalhistas são recebidos por autoridades políticas e homenageados, além de serem vinculados a campanhas institucionais e comerciais. Em torno desses homens e mulheres giram inúmeros discursos de saúde, beleza e comportamento, em suas imagens o esporte é personificado: nos uniformes, nas formas dos corpos e nos movimentos executados. O esporte, através de suas diferentes modalidades, representa mais do que a espetacularização de corpos, de performances, de invervenções técnicas e de expressão, individual e coletiva, de nacionalidade/pertencimentos/identidades. É um produto cultural e, por assim ser, é sempre diverso porque traduz diferentes sentidos e significados atribuídos em espaços e tempos diversos. É, portanto, histórico visto que resulta da ação de diferentes homens e mulheres que, ao seu tempo, através de sua participação, transformaram, construíram, estruturaram e, de certa forma, influenciaram na constituição do imaginário em torno do modo como entendemos e vivenciamos esta prática corporal seja ela como trabalho ou como lazer e opção de divertimento. Este texto tematiza o voleibol feminino na cidade de Porto Alegre, mais especificamente a década de 50 e o início da década de 60, período de significativa relevância na estruturação e nos reordenamentos de valores sociais na cidade de Porto Alegre. Valores esses que atingiram, também o campo esportivo. Resulta de uma pesquisa realizada junto ao Centro de Memória do Esporte da Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em especial, do Projeto Garimpando Memórias. Sua tecitura se dá através da abordagem metodológica da história oral cujas análises estiveram baseadas no diálogo de fontes primárias tais como entrevistas com atletas mulheres da década de 50, pesquisa em arquivos de jornais e periódicos publicados nesse período, fotografias, diários, anotações pessoais bem como através de fontes secundárias: publicações referentes a temas como o contexto cultural e esportivo da cidade de Porto Alegre, o desenvolvimento do campo esportivo no Brasil, a inserção feminina neste campo, entre outros. A década de 50 foi marcada por mudanças na estrutura econômica na capital gaúcha, a crescente industrialização impulsionada pelo fortalecimento do capitalismo, a ascensão da burguesia como classe e o crescimento urbano modificaram os ares da cidade. Em conseqüência, surgiram alterações no consumo, nas relações familiares e nas práticas de lazer, refletindo-se no modo de viver da cidade. A seu modo Porto Alegre viveu as transformações do Pós-Guerra, período no qual as mulheres haviam saído dos espaços privados e ocupado postos no mundo produtivo. Esse novo comportamento gerou tensões entre os padrões culturais mais conservadores e as novas tendências, fazendo com que as mulheres fossem protagonistas do redimensionamento de seus espaços junto ao espaço público, de maneira a despertar novos conceitos para o que socialmente seria adequado às “moças de família”.