Modelos de gestão e design organizacional das entidades esportivas: análise e proposta para clubes brasileiros de futebol
Por Ary José Rocco Jr (Autor), Roger Luiz Brinkmann (Autor), Ivan Furegato Moraes (Autor).
Resumo
Os clubes brasileiros de futebol, em sua maioria entidades associativas de direito privado sem fins lucrativos, estão enfrentando graves problemas de competitividade esportiva, posicionamento mercadológico, endividamento financeiro e distúrbios de governança em um contexto do esporte cada vez mais globalizado. As entidades esportivas brasileiras, ainda pouco profissionais, são obrigadas a conviver e disputar mercado com verdadeiros conglomerados multinacionais do esporte. Diante deste cenário, discutir o Modelo de Gestão e o Design Organizacional destas entidades tornou-se imperativo. Apesar da legislação brasileira permitir o surgimento de empresas destinadas ao futebol profissional, enquanto prática destinada a fins econômicos, desde 1998, com a Lei 9.615/1998, mais conhecida como Lei Pelé, a “nova” lei das SAFs fez ressurgir a discussão sobre qual o modelo de gestão – privado, com proprietário e com fins de lucro; ou, privado, associativo e sem fins de lucro – é o mais adequado para as entidades brasileiras destinadas à prática do futebol profissional. Figueiredo e Caggiano (2017) entendem por Modelo de Gestão “(...) o conjunto de princípios e definições que decorrem de crenças específicas e traduzem o conjunto de ideias, crenças e valores dos principais executivos da organização”. Já o Modelo Organizacional corresponde a uma determinada estrutura organizacional já consolidada. A estrutura da organização influencia diretamente o desempenho, a gestão e os resultados da empresa, e o modelo deve ser escolhido de forma a garantir a melhor eficiência possível da empresa. Neste sentido, se torna necessário um aprofundamento da discussão sobre o Modelo de Gestão, o Modelo Organizacional e o Design Organizacional (estrutura da entidade, com seus cargos, funções e responsabilidades) destas organizações. A estrutura organizacional define como as tarefas são formalmente distribuídas, agrupadas e coordenadas; cada empresa adota o melhor modelo para sua organização segundo suas estratégias. Henry Mintzberg (2012), importante pesquisador canadense, apresenta seis tipos de organizações de acordo com os seus designs institucionais, são eles: Estrutura Simples ou empresarial, Burocracia Mecânica ou Máquina, Burocracia Profissional, Estrutura Divisionalisada ou Diversificada, Estrutura Inovadora ou Adhocrática, e, Estrutura Missionária ou ideológica. Para uma administração e tomada de decisões eficientes, a estrutura organizacional deve ser estudada e analisada, pois existem estruturas que não se adaptam a determinados tipos de organizações ou mercados, podendo torná-las mais ou menos competitivas. Objetivo(s): O objetivo desta pesquisa, financiada pelo Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico (CNPq), foi identificar, com base nos conceitos teóricos e na tipologia das organizações apresentados pelo pesquisador canadense Henry Mintzberg (2012), os Modelos de Gestão e os Designs Organizacionais de todos os clubes de futebol do país que participaram de competições oficiais organizadas pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em 2019. Processos Metodológicos: A metodologia proposta para a realização desta pesquisa foi qualitativa, e, segundo Vergara (2007), de natureza exploratória, descritiva e aplicada. O tamanho da amostra pesquisada foi de cento e trinta e um clubes de futebol que disputaram, no ano de 2019, competições nacionais organizadas pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) – Séries A, B, C e D do Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil de Futebol Masculino. Com base nessa amostra, este projeto de pesquisa foi composto de três etapas: fase 1 - análise documental, com a observação direta de informações obtidas nos portais e nos perfis de redes oficiais dos clubes participantes da amostra, realizada no período de 01 de janeiro a 31 de dezembro de 2019; fase 2: todos os clubes da amostra foram procurados para a realização de entrevista semiestruturada e em profundidade com alguns dos seus principais gestores, aqueles que responderam positivamente (34 agremiações) foram entrevistados pela plataforma GoogleMeet, no período de 01 de janeiro a 31 de dezembro de 2020; e, fase 3, após a coleta das informações, os dados foram compilados em planilhas de Excel, analisados, categorizados e interpretados com base no método da análise de conteúdo, de Laurence Bardin (2011), com a utilização do software NVIVO. Como a amostra foi composta de vários clubes, também trabalhamos com a metodologia de estudos de casos múltiplos (Yin, 2010)