Resumo

Os clubes brasileiros de futebol, em sua maioria entidades associativas de direito privado sem fins lucrativos, estão enfrentando graves problemas de competitividade esportiva, posicionamento mercadológico, endividamento financeiro e distúrbios de governança em um contexto do esporte cada vez mais globalizado. As entidades esportivas brasileiras, ainda pouco profissionais, são obrigadas a conviver e disputar mercado com verdadeiros conglomerados multinacionais do esporte. Diante deste cenário, discutir o Modelo de Gestão e o Design Organizacional destas entidades tornou-se imperativo. Apesar da legislação brasileira permitir o surgimento de empresas destinadas ao futebol profissional, enquanto prática destinada a fins econômicos, desde 1998, com a Lei 9.615/1998, mais conhecida como Lei Pelé, a “nova” lei das SAFs fez ressurgir a discussão sobre qual o modelo de gestão – privado, com proprietário e com fins de lucro; ou, privado, associativo e sem fins de lucro – é o mais adequado para as entidades brasileiras destinadas à prática do futebol profissional. Figueiredo e Caggiano (2017) entendem por Modelo de Gestão “(...) o conjunto de princípios e definições que decorrem de crenças específicas e traduzem o conjunto de ideias, crenças e valores dos principais executivos da organização”. Já o Modelo Organizacional corresponde a uma determinada estrutura organizacional já consolidada. A estrutura da organização influencia diretamente o desempenho, a gestão e os resultados da empresa, e o modelo deve ser escolhido de forma a garantir a melhor eficiência possível da empresa. Neste sentido, se torna necessário um aprofundamento da discussão sobre o Modelo de Gestão, o Modelo Organizacional e o Design Organizacional (estrutura da entidade, com seus cargos, funções e responsabilidades) destas organizações. A estrutura organizacional define como as tarefas são formalmente distribuídas, agrupadas e coordenadas; cada empresa adota o melhor modelo para sua organização segundo suas estratégias. Henry Mintzberg (2012), importante pesquisador canadense, apresenta seis tipos de organizações de acordo com os seus designs institucionais, são eles: Estrutura Simples ou empresarial, Burocracia Mecânica ou Máquina, Burocracia Profissional, Estrutura Divisionalisada ou Diversificada, Estrutura Inovadora ou Adhocrática, e, Estrutura Missionária ou ideológica. Para uma administração e tomada de decisões eficientes, a estrutura organizacional deve ser estudada e analisada, pois existem estruturas que não se adaptam a determinados tipos de organizações ou mercados, podendo torná-las mais ou menos competitivas. Objetivo(s): O objetivo desta pesquisa, financiada pelo Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico (CNPq), foi identificar, com base nos conceitos teóricos e na tipologia das organizações apresentados pelo pesquisador canadense Henry Mintzberg (2012), os Modelos de Gestão e os Designs Organizacionais de todos os clubes de futebol do país que participaram de competições oficiais organizadas pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em 2019. Processos Metodológicos: A metodologia proposta para a realização desta pesquisa foi qualitativa, e, segundo Vergara (2007), de natureza exploratória, descritiva e aplicada. O tamanho da amostra pesquisada foi de cento e trinta e um clubes de futebol que disputaram, no ano de 2019, competições nacionais organizadas pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) – Séries A, B, C e D do Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil de Futebol Masculino. Com base nessa amostra, este projeto de pesquisa foi composto de três etapas: fase 1 - análise documental, com a observação direta de informações obtidas nos portais e nos perfis de redes oficiais dos clubes participantes da amostra, realizada no período de 01 de janeiro a 31 de dezembro de 2019; fase 2: todos os clubes da amostra foram procurados para a realização de entrevista semiestruturada e em profundidade com alguns dos seus principais gestores, aqueles que responderam positivamente (34 agremiações) foram entrevistados pela plataforma GoogleMeet, no período de 01 de janeiro a 31 de dezembro de 2020; e, fase 3, após a coleta das informações, os dados foram compilados em planilhas de Excel, analisados, categorizados e interpretados com base no método da análise de conteúdo, de Laurence Bardin (2011), com a utilização do software NVIVO. Como a amostra foi composta de vários clubes, também trabalhamos com a metodologia de estudos de casos múltiplos (Yin, 2010)