Resumo

Estudos têm demonstrado que o desenvolvimento do diabetes tipo II está fortemente associado com fatores genéticos. Existem evidências de que as disfunções metabólicas precoces associadas ao desenvolvimento do diabetes em indivíduos com história familiar positiva dessa doença são mais prevalentes em sedentários, sugerindo que a atividade física regular possa atenuar o risco de desenvolver o diabetes tipo II em pessoas geneticamente predispostas. Dessa forma, o objetivo do presente estudo foi avaliar parâmetros metabólicos, hemodinâmicos e a variabilidade da freqüência cardíaca (VFC) em repouso e em resposta 1) a um teste de estresse mental, 2) ao exercício estático com um dinamômetro manual, 3) a uma sessão de exercício dinâmico aeróbio em indivíduos sedentários ou fisicamente ativos com história familiar positiva ou negativa de diabetes. Para isso, foram selecionados 48 homens, adultos jovens saudáveis, com idade entre 18 e 35 anos e com IMC dentro da faixa de normalidade. Os sujeitos foram divididos em 4 grupos (n=12 em cada grupo): filhos de pais normoglicêmicos sedentários (FNS) ou fisicamente ativos (FNFA) e filhos de pais diabéticos sedentários (FDS) ou fisicamente ativos (FDFA). Os grupos estudados foram semelhantes com relação à idade, a composição corporal, perfil lipídico e glicemia. Porém, os grupos treinados apresentaram valores de insulina plasmática menores quando comparados aos grupos sedentários. Conseqüentemente, os grupos fisicamente ativos apresentaram maior sensibilidade a insulina, avaliada através do índice HOMA em relação aos grupos sedentários. No repouso, os grupos foram semelhantes, com valores dentro da faixa de normalidade, em relação à pressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD). Foi observada bradicardia de repouso nos grupos treinados em comparação aos grupos sedentários. Com relação à avaliação da VFC, os grupos treinados apresentaram maior variância do intervalo de pulso (VAR) quando comparado aos grupos sedentários. Adicionalmente, o grupo FDS apresentou VAR menor em relação ao grupo FNS. O grupo FDS apresentou maior modulação simpática cardíaca em comparação aos demais grupos estudados em repouso, demonstrada por maiores valores do balanço simpato/vagal do intervalo de pulso (BF/AF). Frente à estimulação simpática do teste de estresse mental (stroop test) observou-se aumento da PAS e da FC, porém resposta cronotrópica foi maior nesse grupo FDS e a PAD só aumentou nesse grupo. Adicionalmente, somente os grupos sedentários apresentaram aumento do BF/AF após o teste de estresse mental quando comparado aos seus valores de repouso. O exercício de preensão palmar com handgrip (3 minutos a 30% da carga voluntária máxima) induziu aumento da PAS e da FC em todos os grupos estudados. Observou-se aumento do BF/AF após esse exercício apenas no grupo FNS quando comparado ao período de repouso, atingindo valores semelhantes ao grupo FDS nessa condição. Em relação à sessão de exercício aeróbio dinâmico (30 min: 30-10% abaixo da FC do limiar anaeróbio), observou-se aumento da FC e da PAS a cada incremento de carga em todos os grupos, e a PAD não sofreu modificações. O grupo FDS apresentou resposta cronotrópica exacerbada nos primeiros 5 minutos desse exercício em relação aos demais grupos. Os grupos estudados apresentaram diminuição da VAR e aumento do BF/AF no início da recuperação do exercício. Esses parâmetros retornaram a valores semelhantes aos do repouso no final do período de recuperação (30 minutos pós exercício). Nesse momento não foram observadas diferenças na VAR e no BF/AF entre os grupos sedentários, mas os grupos fisicamente ativos apresentaram maior VAR em relação ao grupo FDS. Concluindo, esses resultados evidenciam que adultos jovens sedentários com história familiar positiva de diabetes do tipo II com sensibilidade à insulina normal apresentaram reduzida VFC e maior modulação simpática cardíaca em repouso, além de exacerbada resposta hemodinâmica a testes de estimulação simpática. Quando submetidos a uma sessão de exercício dinâmico aeróbio esses sujeitos apresentaram resposta cronotrópica exacerbada acompanhada de um aumento modulação simpática cardíaca pós exercício semelhante à de sujeitos sedentários com história familiar negativa de diabetes. Porém, no final do período de recuperação do exercício não foi observado prejuízo na VFC nos filhos de diabéticos em relação aos filhos de não diabéticos, sugerindo que tal prática é segura e pode induzir benefício discreto nessa população. No entanto, o resultado mais importante do presente estudo foi que filhos de diabéticos fisicamente ativos apresentaram melhora da sensibilidade à insulina acompanhada de normalização das disfunções hemodinâmicas e/ou na modulação autonômica cardíaca no repouso e após as manobras de estimulação simpática e a sessão de exercício físico, sugerindo que uma vida fisicamente ativa possa prevenir as disfunções precoces que podem estar associadas ao maior risco de desenvolver diabetes do tipo II em populações geneticamente predispostas.

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