Mulheres em livros didáticos de educação física brasileiro: visibilidade contra a discriminação
Por Irene Moya-Mata (Autor), Helena Altmann (Autor).
Em XX Congresso de Ciências do Desporto e de Educação Física dos Países de Língua Portuguesa
Resumo
Livros didáticos se tornaram mais frequente na educação física nos últimos anos. Além dos textos e conteúdos desenvolvidos, as imagens contêm um papel formativo importante. Assim, o poder que essas representações visuais exercem, sob a forma de currículo oculto, justifica a análise das imagens em livros didáticos de educação física. As imagens não apenas ilustram os conteúdos, mas também constroem significados e moldam percepções sobre o que é considerado adequado, valioso ou exemplar no contexto esportivo. Por meio de imagens, são transmitidos padrões de gênero, raça e sexualidade, referências corporais, além de normas sociais que influenciam a formação de identidades e atitudes dos estudantes. Quando as representações visuais privilegiam um grupo social em detrimento de outro, como na frequente sub-representação das mulheres atletas, podem contribuir para a perpetuação de estereótipos e desigualdades.
Outrossim, no Brasil, pesquisas apontam uma menor participação de meninas em aulas de educação física na escola, assim como é menor a frequência de prática esportiva por mulheres em espaços de lazer, sendo ainda mais baixa entre mulheres com menor renda e escolaridade. Parte significativa dessa população frequenta escolas públicas e a adoção de livros didáticos para aulas de educação física possibilita-nos questionar como as imagens de mulheres em livros didáticos as aproxima ou não da prática esportiva.
De tal modo, este estudo examina a representação de mulheres atletas nos livros didáticos de Educação Física para estudantes de 6º a 9º ano da rede estadual de ensino de São Paulo, Brasil. Trata-se da maior rede de ensino do Brasil, com 5,3 mil escolas autônomas e vinculadas, atendendo a aproximadamente 3,5 milhões de estudantes. A amostra incluiu quatro livros didáticos do estado de São Paulo, publicados em 2024. A metodologia utilizada foi descritiva, e, como técnica de pesquisa, a análise de conteúdo; a partir de um sistema de categorias elaborado ad hoc.
Os resultados indicaram que as imagens de homens atletas predominam em comparação às de mulheres, tanto em quantidade (67,65%), quanto na diversidade de modalidades (atletismo, pelota basca, beisebol, judô, mountain bike, jiu-jitsu e MMA). As representações de mulheres também são em menor número nos esportes adaptados, encontrando só uma imagem em atletismo, ao contrário dos homens que aparecem em seis modalidades diferentes e em 85,7% das imagens. Assim, a pesquisa revelou uma grande sub-representação das atletas femininas, o que reforça a importância de visibilizar as mulheres no esporte, especialmente aquelas dedicadas à alta competição e em modalidades menos conhecidas, assim como com deficiência. Esse cenário evidencia a necessidade de que as editoras revisem seus conteúdos, aumentando a visibilidade de mulheres atletas. O fortalecimento da representação feminina nos livros didáticos é crucial para que as meninas encontrem referências positivas que as inspirem a se envolver em atividades físicas e esportivas, contribuindo assim para uma educação mais igualitária e motivadora, e para a superação da discriminação de gênero na educação física escolar.