Resumo

O trabalho procura compreender os multiletramentos, as tecnologias digitais e o corpo como elementos transitórios, historicamente produzidos e definidos em interação recíproca. Como questão central, busca-se problematizar os lugares do corpo nos multiletramentos (multiliteracies) – proposta elaborada pelo New London Group que se apropria de tecnologias digitais, e insere múltiplas modalidades de linguagem no ensino escolar de práticas sociais de leitura e escrita, entre elas as representações gestuais e as representações táteis. Sob a forma de ensaios, o trabalho propõe caminhos para aproximar corpo e palavra, teoria e senso comum, arte e ciência, linguagem e movimento humano. O texto dialoga com as memórias inventadas de Manoel de Barros, com a imaginação sociológica de Wright Mills, com o ensaio como forma de Theodor Adorno, com o corpo rabelaisiano de Mikhail Bakhtin, com a palavramundo de Paulo Freire, entre outras referências, com ênfase no corpo próprio – sensível e motriz – da obra de Maurice Merleau-Ponty. As reflexões se organizam em dois sentidos: partindo dos mutiletramentos, procura-se conexões com o corpo e seus diálogos sinestésicos com o mundo; e partindo do corpo, busca-se seus possíveis lugares nos multiletramentos. Nesses percursos, o trabalho também reflete sobre os lugares do corpo em oficinas de mídia-educação desenvolvidas com crianças italianas durante um estágio sanduíche no exterior e em oficinas de formação de professores no Brasil. Contra as visões deterministas das tecnologias digitais e a objetivação dualista cartesiana do corpo nos espaços escolares, o trabalho aponta que a experiência do corpo próprio pode servir como referência para a construção de diálogos sinestésicos entre o corpo – Ser-no-mundo que se efetiva corporalmente – e as tecnologias digitais no âmbito da educação, em propostas pedagógicas que considerem o corpo em seus encontros com o mundo.
 

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